Título: Senado tem que ter maioridade, diz Lula
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 29/07/2009, Política, p. A15

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mudou ontem o tom de sua estratégia em relação à crise do Senado. Evitou defender diretamente o senador José Sarney (PMDB-AP) e falou do tema de forma geral, alertando os senadores de que o desgaste do Senado pode "matar a instituição". Lula pediu que os senadores se reúnam na volta do recesso parlamentar, na próxima semana, para discutir a crise que se abateu sobre a instituição.

"O Senado tem que ter maioridade para resolver o seu problema. O que não pode é deixar a coisa esticar, esticar, porque, a cada dia, se você ver uma novidade, por menor que ela seja no jornal, cria desgaste da instituição", disse Lula em entrevista à rádio Correio Sat. Ao sugerir que os senadores se reúnam, o presidente disse: "Os senadores têm que dizer o que querem para o Senado. O que não é possível é que as pessoas permitam que a instituição vá sofrendo desgaste, desgaste, porque isso mata as pessoas e mata a instituição".

Ontem, pela primeira vez desde que o Senado foi atingido pelas denúncias de atos secretos e contratações de familiares de Sarney, Lula deixou de lado a defesa direta do presidente do Senado e passou a falar em crise institucional.

Essa mudança de tom já estava decidida. Lula considera que já fez as defesas públicas do aliado peemedebista e que, a partir de agora, passará agir mais nos bastidores. O presidente não deseja a queda do presidente do Senado, por temer uma crise na base aliada que possa refletir nos trabalhos da CPI da Petrobras. Em entrevista a rádio, Lula criticou a atuação do Congresso. Citou a não votação da reforma política, o que, segundo ele, cria problemas nos anos eleitorais e, eventualmente, dificuldades para seu governo.

Lula também afagou o PMDB. "Se o PT e PMDB tiverem juízo, faremos uma grande aliança para 2010", disse. Ele afirmou que pediu aos presidentes do PT, Ricardo Berzoini, e do PMDB, Michel Temer, que mapeiem os Estados onde há possibilidade de os dois partidos se unirem.

O presidente Lula afirmou também que vai lançar, em fevereiro do ano que vem, um novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para o período de 2011 a 2015. Segundo ele, o objetivo é deixar as coisas aprovadas, para que quem entrar depois dele não tenha de "começar do zero" . Lula disse que a economia brasileira terá "um crescimento surpreendente" em 2010. Ele afirmou que foi "achincalhado" e "avacalhado" em 2003, quando usou a expressão "espetáculo do crescimento", mas que a economia cresceu 5,8% em 2004 e vai crescer em 2010.

Lula atribuiu parte da crise econômica ao pânico e lembrou que, nos encontros que tem tido com governantes de outros países, como os presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e da França, Nicolas Sarkozy, só tem ouvido elogios à política econômica do Brasil. "E só tende a melhorar, não pense que há espaço para piorar", disse o presidente, que criticou a oposição, que, segundo ele, torce para que o Brasil não dê certo, para assim ter chance nas eleições presidenciais de 2010. (Com agências noticiosas)