Título: Para Berzoini, nota de Mercadante é infantil
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 29/07/2009, Política, p. A15

O presidente do PT, Ricardo Berzoini criticou nota assinada pelo líder da bancada petista no Senado, Aloizio Mercadante (SP), em defesa do licenciamento do presidente do Senado, José Sarney. Berzoini manteve a defesa ao aliado pemedebista, intensificando a briga dentro do partido. E a pressão contra o líder do PT no Senado aumentou.

Berzoini não aceita que os senadores petistas peçam o licenciamento de Sarney. "É uma atitude infantil. É preciso ter maturidade e lembrar que Sarney foi eleito", disse. Berzoini considerou que Mercadante foi "precipitado" e "ansioso" ao reiterar o pedido pelo afastamento de Sarney e que foi um pedido do líder do PT, não da bancada - "que está rachada", disse.

A assessoria do líder do PT disse que ele não se manifestaria. Pela comunidade virtual twitter, o senador paulista, às 17h de ontem, declarou: "Sobre a crise do Senado e os fatos novos que ocorreram durante o recesso, eu me posicionei publicamente por uma nota divulgada na imprensa. Não tenho mais nada a acrescentar. Aguardarei a reunião da bancada que ocorrerá na próxima semana".

O presidente do PT criticou duramente os senadores petistas e disse que eles não querem enxergar que a oposição ganhará com o afastamento de Sarney, já que Marconi Perillo (PSDB-GO), vice-presidente, poderá assumir a presidência. Berzoini destacou que o PT não assinará representação contra o pemedebista.

A divergência sobre a manutenção de Sarney no cargo é mais um episódio dos embates do líder do PT no Senado com o governo federal e seus aliados. Já na eleição de Sarney, Mercadante desgastou-se ao apoiar e articular a candidatura de Tião Viana (PT-AC), derrotado. Nos embates com o líder do PMDB na Casa, Renan Calheiros (AL), ele perdeu, muitas vezes com o aval do governo. Foi derrotado quando defendia que Ideli Salvatti (PT-SC) assumisse a presidência da comissão de Infraestrutura, uma das mais importantes do Senado. Quem assumiu foi Fernando Collor (PTB-AL).

Mercadante perdeu o protagonismo em parte das negociações sobre a CPI da Petrobras, dando espaço a Ideli Salvatti, líder do governo no Congresso. Apoiava Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), para presidir o Conselho de Ética, mas não conseguiu sustentar a candidatura quando Renan indicou o pemedebista Paulo Duque (RJ). O PT não ficou nem com a relatoria da MP 458, conhecida como a MP da Grilagem. Marina Silva (AC) pedia para ser a relatora, mas Sarney designou Katia Abreu (DEM-TO), da Confederação Nacional da Agricultura.

No Planalto, o ministro José Múcio Monteiro negou que tenha desautorizado a nota de Mercadante apenas um dia depois de ter afirmado que se tratava de um movimento isolado. O ministro ligou para Mercadante (SP) e para os demais senadores do PT para explicar-se e negar que o tenha desautorizado. Responsável pela Coordenação Política, Múcio disse que as declarações expressavam sua opinião e não a do governo federal.

"Em nenhuma hipótese a opinião dada na segunda-feira refletia o sentimento do governo, mas o sentimento pessoal", disse. O ministro, indicado pelo PTB para o cargo, falou para o líder petista que "não tinha autoridade, razão e nem motivo para desautorizá-lo". Aproveitou para elogiar o petista, dizendo que ele é "respeitado, competente e líder de uma das principais bancadas de apoio ao governo no Senado". Segundo Múcio, Mercadante aceitou as explicações.

Os telefonemas começaram às oito horas da manhã e foram direcionados não apenas aos senadores, mas também ao presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), ao chefe do gabinete pessoal do presidente Lula, Gilberto Carvalho, e ao secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci. "Eu não posso ser fator de desagregação, meu trabalho aqui é juntar pessoas, é do meu temperamento e da minha função".

Senadores do PT demonstraram irritação com a interferência de um ministro não filiado ao partido sobre as decisões da bancada e declararam que Aloizio Mercadante, ao assinar uma nota reiterando o pedido de afastamento de Sarney do cargo, só expressou aquilo que já havia sido deliberado em reunião da bancada petista. "Quando Mercadante escreveu essa nota, ele sabia que esse era o sentimento dos senadores do PT", comentou o senador Eduardo Suplicy (SP). "Múcio não é do partido. Deveria ter vergonha de dizer que apoia a permanência de Sarney no cargo neste momento", reclamou Flávio Arns (PT-PR). "Um ministro não pode falar para um senador o que pode fazer ou deixar de fazer. São poderes independentes", afirmou. "Essa participação do Planalto tem atrapalhado nossa posição, que é clara", disse Arns.