Título: PT e PSB paulistas resistem à pressão por Ciro
Autor: Boechat , Yan
Fonte: Valor Econômico, 31/07/2009, Política, p. A8

Apesar da pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que o PT paulista abra mão da cabeça de chapa nas eleições para o governo do Estado, o partido permanece reticente em aceitar a quase imposição de sua maior liderança para que Ciro Gomes (PSB-CE) seja o candidato do governo federal em São Paulo. As lideranças paulistas entendem que a disputa pela Presidência é o ponto central em 2010, mas ao mesmo tempo querem evitar um enfraquecimento da sigla no Estado onde nasceu e nunca conseguiu ameaçar, de fato, a hegemonia do PMDB e do PSDB no Palácio dos Bandeirantes. Em meio a uma crise profunda entre duas de suas maiores lideranças, o senador Aloizio Mercadante, e o deputado federal Ricardo Berzoini, presidente nacional do partido, o PT paulista inicia o mês de agosto tentando encontrar solução para uma equação complexa que pode, na visão dos dirigentes da sigla, implodir a frágil união entre suas principais tendências.

A estratégia das lideranças é mostrar a Lula que uma coalizão sem alicerce ideológico e programático pode, na verdade, enfraquecer o palanque paulista para Dilma Rousseff. Para os petistas, questões como o apoio do PSB ao governo de José Serra (PSDB), o líder nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência, são incompatíveis com a candidatura de Ciro com o apoio petista. "É preciso uma unidade no discurso, não podemos criar uma união falsa, montada, porque isso vai enfraquecer a candidatura da Dilma aqui", afirma um parlamentar petista.

Os dirigentes dizem aceitar abrir mão da cabeça de chapa, desde que não haja contrassenso entre as visões dos aliados em relação a São Paulo. "Precisamos ter uma candidatura que não tenha ambiguidades, esse é o ponto fundamental", afirma o presidente do PT em São Paulo, o ex-prefeito de Araraquara, Edinho Silva, que garante não haver impedimento à candidatura de Ciro. "Nós não somos contra, queremos apenas conversar antes", diz ele.

Ontem, Edinho iniciou um périplo pelos potenciais aliados na eleição paulista. Vai, pela primeira vez de forma oficial, conversar com o PSB, o PDT, o PCdoB e o PR sobre a formação de uma chapa única no Estado. Edinho garante que vai aberto para o diálogo com os aliados - ao menos na base do governo federal -, diz querer ouvir as propostas e as visões de cada um deles. Vai fazer isso. Mas no PT sabe-se que ele também vai deixar claro que numa potencial coalizão quem dará as cartas será o partido do presidente da República, ainda que o principal candidato seja de outra sigla.

No encontro que teve ontem com o deputado federal Márcio França, presidente do PSB paulista, Edinho apenas oficializou a intenção de discutir um projeto para São Paulo. Mas implicitamente deixou claro que o partido precisa retirar o apoio a José Serra na Assembleia Legislativa para que a união se dê, de fato. O PSB, por sua vez, vive situação semelhante ao PT. Enquanto a direção nacional quer Ciro como candidato ao governo do Estado, para a executiva local, ligada a Serra, seria mais confortável se o ex-ministro ficasse no Ceará.

O discurso da unidade ideológica apreogado pela maior parte da cúpula petista em São Paulo é apenas a superfície de um conjunto de preocupações maiores do PT paulista. Sem ameaçar o domínio tucano no governo do Estado há mais 15 anos e com a bancada federal estagnada por mesmo período, os dirigentes paulistas entendem que é chegada a hora de o partido iniciar um projeto de longo prazo para conquistar o Palácio dos Bandeirantes. Na visão dos dirigentes, é preciso sair das eleições estaduais com acumulo de capital político para 2014. Ou seja, iniciar o processo de popularização de um nome que possa concorrer de igual para igual com os candidatos do PSDB.

Apesar do fraco desempenho nas pesquisas encomendadas pelo partido, Emídio de Souza, o prefeito de Osasco, ainda é o nome mais defendido internamente, apesar das restrições de Lula à sua candidatura. Com o vácuo deixado pelas desistências da ex-prefeita Marta Suplicy e do senador Aloizio Mercandante em concorrer ao governo de São Paulo, a cúpula petista avalia aceitar até mesmo o nome do ministro da Educação, Fernando Haddad que, apesar da reconhecida competência técnica, tem pouco - ou nenhum - apoio político no partido. "Ele é um ministro de Estado com grande potencial de crescimento", diz uma liderança do partido, que até pouco tempo não via com bons olhos as pretensões, ainda veladas, de Haddad em concorrer ao governo de São Paulo.

Apesar de toda a estratégia para tentar enfraquecer internamente a candidatura de Ciro Gomes e impingir um petista para a cabeça de chapa, a cúpula paulista não está disposta a entrar em rota de colisão com Lula. Há um clamor interno para que o presidente ouça as considerações do PT paulista, que se diz unido como nunca esteve. Mas há também consenso de que uma queda de braço com o Planalto não faz sentido. "No final quem vai decidir é o Lula, é ele quem dará a palavra final, não há muito o que possa ser feito", diz um integrante da executiva estadual que trabalha com afinco para não precisar subir no mesmo palanque que Ciro Gomes.