Título: Depois de liderar ganho em julho, bolsa terá teste em agosto
Autor: Monteiro , Luciana
Fonte: Valor Econômico, 31/07/2009, EU & Investimentos, p. D4
O mês de agosto deve colocar à prova a tão esperada recuperação da economia mundial. A sensação é de que o pior da crise ficou realmente para trás e os números econômicos devem vir um pouco melhores. O cenário desanuviou um pouco, mas é preciso ter em mente que a recessão não acabou. Faltando apenas um dia para o mês acabar, o Índice Bovespa era o grande destaque entre as aplicações financeiras em julho, com alta de 5,85%. No acumulado do ano, a valorização do principal indicador do mercado acionário brasileiro é de 45,08% - um percentual surpreendente, principalmente durante uma das piores crises econômicas.
Em julho, o mercado local foi influenciado pela reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que reduziu a taxa básica de juros para 8,75%. Lá fora, o resultado dos bancos americanos com números melhores - ou não tão ruins - do que o esperado contribuiu para melhor o humor dos investidores.
No curto prazo, a economia deverá apresentar uma melhora leve, com a recomposição dos estoques no mundo e números de produção mais animadores, avalia Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset Management. "Mas no longo prazo ainda não dá para saber como a economia vai se comportar, pois ainda há muitas dúvidas, principalmente com relação ao consumo americano depois da crise", diz o executivo.
Os bancos americanos, principalmente a partir de março, tiraram da queda de preços a probabilidade de uma depressão, o que faz com que os agentes econômicos estejam mais propensos a assumir riscos. "Assim como no mercado americano, isso vem se refletindo na bolsa brasileira", diz José Marcio Camargo, economista da Opus Gestão de Recursos. Contribuiu para o bom desempenho do Ibovespa a volta da demanda da China, o que elevou o preço das commodities. "Se a recuperação da China persistir, o comportamento da bolsa brasileira deve ser relativamente positivo já que o consumo interno, apesar de um certo arrefecimento, ainda cresce a taxas altas", avalia o executivo.
Com um otimismo ainda que moderado no ar, os investidores devem começar a buscar ativos mais arriscados novamente, avalia Póvoa. "Não vejo um movimento excepcional na bolsa no próximo mês, mas o investidor deverá se mostrar um pouco menos avesso ao risco", diz. Para ele, os juros em níveis historicamente baixos devem levar também mais aplicadores para a bolsa ou mesmo para fundos multimercados.
Tende a ocorrer um descolamento entre as chamadas ações cíclicas (caso das commodities) das não-cíclicas (de varejo, por exemplo). Papéis como Petrobras e Vale não devem apresentar novas máximas no curto prazo, enquanto as ações de construção e ligadas ao consumo interno continuam favorecidas, avalia Jacob Weintraub, sócio da Oren Investimentos. "O crescimento do Brasil deve ser menos em função das commodities e mais por conta do consumo interno."
Apesar da alta do Ibovespa no ano, ainda há empresas sólidas, com boa liquidez e com preços atrativos na bolsa, afirma Alexandre Rezende, sócio da Oceana Investimentos. O trabalho de escolha cuidadosa de ações, chamado de "stock-picking", há tempos não faz muita diferença no resultado dos fundos no Brasil. Mas isso agora está mudando, diz o executivo, que vê oportunidade em alguns papéis de grandes bancos brasileiros e na área de logística e transportes.
Com relação aos juros, a ata da última reunião do Copom divulgada ontem confirmou o fim do ciclo de afrouxamento monetário. A expectativa do mercado é de que o próximo ciclo será de alta dos juros, mas quando isso ocorrerá vai depender da inflação e da retomada do crescimento mundial, diz Weintraub, da Oren.
Para ele, a Selic de 8,75% ao ano não é a taxa de equilíbrio da economia brasileira, que tende a ser maior. Weintraub lembra que, antes da crise, a Selic estava em 11,25% e que, no decorrer de 2008, o Banco Central subiu a taxa para 13,75% por causa do aquecimento da economia. "Portanto, qualquer recuperação maior da atividade resultará em alta de juros", avalia. O executivo estima que o Copom começará a elevar os juros básicos no segundo semestre do ano que vem, considerando-se, no entanto, um cenário de recuperação mundial moderada.
Na avaliação de Camargo, da Opus, a atual taxa de juros real não é sustentável no longo prazo e o Banco Central terá de aumentá-la para manter a inflação na meta. "Mas, dada a elevada capacidade ociosa da indústria, esse movimento de alta deve demorar algum tempo", diz.
No caso do dólar, a moeda brasileira deve continuar numa trajetória favorável, avalia Weintraub. A expectativa é de que o país continue a receber moeda e a gestora estima um saldo em conta corrente positivo em US$ 3 ou US$ 4 bilhões em agosto. Em julho, até o dia 30, a moeda americana apresenta queda de 4,58% e, no ano, de 19,71%.