Título: Sem conflito de interesses
Autor: Nobre, Letícia
Fonte: Correio Braziliense, 06/06/2010, Economia, p. 15

Considerado um celeiro de profissionais para o mercado financeiro, o Banco Central aprimorou os mecanismos de transparência e controle sobre seus servidores. Muitos deles assumem posições de destaque na iniciativa privada, mas preferem não romper com a Instituição. Para evitar que estas situações resultem em conflito de interesses, o BC endureceu as regras internas.

Com isso, a Autoridade Monetária perdeu nomes importantes: Gustavo Loyola, ex-diretor de normas e ex-presidente da autarquia; Sérgio Goldenstein, ex-diretor do departamento de mercado aberto; Marcelo Kfoury, atual economista-chefe do Citibank e Carlos Eduardo Sampaio Lofrano, que se aposentou em abril de 2009 e trabalha no Bicbanco.

A resolução da Autoridade Monetária que trata de conflitos de interesses entre as licenças pessoais e os propósitos da instituição é mais drástica do que os normativos elaborados pela Comissão de Ética Pública. O BC proíbe os funcionários de atuarem no mercado financeiro ou áreas que tenham alguma associação com as funções exercidas. No total, essa medida provocou a exoneração de nove servidores, a volta de seis e a aposentadoria de um. Já a Casa Civil apenas limita o exercício de atividades que entrem em choque com os horários ou com a natureza do trabalho exercido.

Fortunas Na opinião de Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, a resolução não é benéfica para o governo. ¿É uma pena que exista a restrição. As experiências que os funcionários ganham no mercado acrescentam o trabalho feito ao governo¿, comenta.

A direção inversa, porém, é a mais vantajosa. Os profissionais que estão do lado de fora do balcão e são convidados a assumir diretorias abrem mão de salários enormes por ganhos considerados insuficientes. No entanto, os R$ 11,4 mil mensais no BC podem virar fortunas na volta para o mercado. Recentemente, Ricardo Torós, que sucedeu Rodrigo Azevedo na diretoria de política monetária, se juntou ao seu antecessor para montar uma empresa de investimentos, que deve começar a funcionar em breve.

¿Em praticamente todo lugar do mundo, nos bancos centrais, a diretoria recebe menos que no mercado privado. É um investimento para a carreira¿, argumenta Freitas. (LN)