Título: Lula critica agressão no Senado e encontra Sarney
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 13/08/2009, Especial, p. A20

O presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva criticou os recentes bate-bocas ocorridos nas últimas semanas no Senado. De acordo com ele, a agressividade exibida torna difícil para a população entender o que se passa na principal casa do Congresso. "As pessoas se agridem de tal modo que mesmo o cidadão que gosta muito de política fica sem compreender o que está acontecendo", afirmou Lula, que participou de cerimônia comemorativa dos 150 anos da chegada ao país dos missionários fundadores da Igreja Presbiteriana Brasileira. Lula citou o Senado enquanto criticava a violência exibida na televisão.

O presidente afirmou ainda em seu discurso que, embora o Estado brasileiro seja laico, religião e governo podem trabalhar com objetivos comuns como a redução da pobreza e da desigualdade. Nesse sentido, Lula lembrou que a chegada do Programa Luz para Todos a 2 milhões de residências levou essas famílias a comprar 1,5 milhão de televisores, 1,4 milhão de geladeiras e 978 mil aparelhos de som. "A luz no interior da Amazônia, do Piauí e do Rio de Janeiro beneficiou as fábricas em todos esses Estados", acrescentou.

Lula encontrou-se secretamente com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), na noite de terça-feira, para avaliar a crise. Sarney relatou as conversas que teve com a oposição com o objetivo de retomar, o mais rápido possível, a rotina do Senado. Antes do encontro com Sarney, Lula reuniu-se no Centro Cultural Banco do Brasil - sede provisória do governo - com o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL).

O Planalto não confirmou nem desmentiu a realização do encontro, que teria ocorrido na Granja do Torto. Outras fontes confirmaram, no entanto, que Lula e Sarney tiveram uma demorada conversa na terça-feira. Um aliado do governo afirmou que não há nenhuma razão para que esse tipo de encontro seja considerado "ilegítimo". "São dois amigos pessoais. Além disso, um é presidente da República, o outro já foi. Não precisam de agendas oficiais para se reunir", apontou o aliado.

Renan deixou o CCBB sem falar com a imprensa mas, ao mesmo tempo em que Lula e Sarney conversavam, o líder do PMDB, ao lado de outros integrantes de seu grupo político, encontrava-se com os presidentes da Petrobras, José Sérgio Gabrielli e da BR Distribuidora, José Eduardo Dutra. O grupo avaliou o primeiro dia de trabalhos da CPI, que ouviu, na terça, o depoimento do atual secretário-interino da Receita, Otacílio Dantas Cartaxo.

A avaliação dos presentes é de que o depoimento foi extremamente positivo para o governo e, mais ainda, para a Petrobras. Perante os integrantes da CPI, Cartaxo afirmou que "a administração tributária ainda não definiu uma interpretação uniforme sobre as normas que permitem às empresas mudar o regime contábil para evitar o impacto da variação cambial". O atual secretário também negou que a estatal tenha sido multada pela Receita, como chegou a ser divulgado à época, relatando inclusive que o valor da autuação seria de R$ 4 milhões.

Além de ajudar a Petrobras, o grupo avaliou também que o depoimento de Cartaxo esvaziou a credibilidade da ex-secretária da Receita, Lina Vieira. Conforme adiantou o Valor na terça, ao desmontar as versões divulgadas pela Receita durante a gestão de Lina, ficaria mais fácil afirmar que ela "também mente ao insistir na versão de que reuniu-se com a chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff. E que esta teria pedido para acelerar as investigações contra Fernando Sarney".

O alívio do grupo foi tão grande que ficou acertado que a base não se oporia à convocação de Lina para uma audiência na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. "Ela pode ir na CCJ, sem problemas. Ela não tem a grandeza nem a importância para ser ouvida na CPI", atacou um senador aliado do governo. No Planalto, há cada vez menos preocupação com as declarações de Lina, consideradas contraditórias e inconsistentes.(*Do Valor Online)