Título: Meirelles não pode ser candidato para perder as eleições, diz Lula
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 14/08/2009, Política, p. A8

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumpriu ontem, em Goiás, programação tipicamente eleitoral, com direito a lançamento de candidatura, ataques a adversários, prestação de contas, promessas e um discurso com forte apelo popular. Cercado das lideranças dos principais partidos de sua base no Estado (PT, PMDB, PP e PR), Lula praticamente lançou a candidatura do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, a governador e defendeu uma aliança política que garanta sua vitória.

"Nós precisamos saber por qual partido e saber quais são os nossos aliados, porque nós precisamos construir uma aliança política para ganhar as eleições. O Meirelles não pode ser candidato para perder as eleições", disse Lula, em entrevista para as rádios Terra FM e São Francisco, de Anápolis - terra do presidente do Banco Central -, primeira parada do presidente e sua comitiva em Goiás. O presidente do Banco Central, que ainda não assume publicamente sua candidatura, participou de toda programação em Goiás.

Lula lembrou que Meirelles abriu mão do mandato de deputado federal (eleito em 2002, pelo PSDB), para presidir o Banco Central e disse ter uma "dívida de gratidão muito forte" com ele por causa disso. "Eu vou dizer uma coisa: se o Meirelles conduzir a economia de Goiás como ele conduziu o Banco Central, Goiás só tem a ganhar. Goiás vai ter um administrador excepcional, porque o Meirelles é muito competente", afirmou. Em discurso, manteve o apoio. Atribuiu a Meirelles e à equipe econômica a responsabilidade pela estabilidade econômica e pelo respeito que o Brasil tem no mundo.

Para aliados de Lula, o presidente deu clara sinalização de preferência pela candidatura do presidente do Banco Central. O prefeito de Goiânia, Iris Rezende, pemedebista histórico e aliado de Lula desde 2002, também é cotado para disputar o governo - que já exerceu por dois mandato -, mas admite apoiar Meirelles, desde que ele se filie ao PMDB e mostre desempenho eleitoral suficiente para derrotar o senador Marconi Perillo (PSDB), que também foi governador por dois mandatos.

Já em Goiânia, depois de uma maratona de nove horas, Meirelles deu rápida entrevista, dizendo que a candidatura ainda não é uma decisão tomada. Lembrou que há duas datas decisivas: 30 de setembro, prazo final para se filiar a um partido político, e fim de março, quando precisa se desincompatibilizar do cargo, caso decida disputar as eleições.

Meirelles tem duas opções partidárias: o PP do governador Alcides Rodrigues, e o PMDB de Iris Rezende. A seu favor, contam o prestígio com Lula e o sucesso à frente do BC. Um temor entre os aliados do Planalto é quanto ao potencial eleitoral de Meirelles em uma eleição majoritária. Em 2002, em sua primeira eleição, ele foi o deputado federal mais votado do Estado.

Em Goiânia, em megaevento popular que reuniu público estimado em mais de 30 mil pessoas, Lula citou, em discurso, as razões pelas quais o plano para salvar a Celg, empresa distribuidora de energia elétrica do Estado, ainda não foi anunciado. Segundo ele, o plano está pronto, mas deve ser formalizado em até 30 dias. Afirmou que técnicos da Eletrobrás ainda analisam a documentação da empresa. A Celg sofreu denúncias de superfaturamento e contratos fraudulentos e tem uma dívida de R$ 5,7 bilhões.

Os problemas se agravaram na gestão de Perillo no governo do Estado. Sem citar o nome do tucano, o presidente afirmou de forma enfática, no discurso, que faz questão de saber "quem quebrou a Celg". Lula disse que a empresa tem um valor patrimonial de R$ 184 milhões e uma dívida de R$ 6 bilhões.

Para recepcionar Lula, de quem é aliado desde a campanha de 2002, o prefeito Iris Rezende montou uma agenda de trabalho conjunta com o governador Alcides Rodrigues e preparou uma grande festa popular na Praça Cívica, cujo caráter eleitoral foi contestado pelo PSOL. O pemedebista negou caráter político-eleitoral da festa e disse que a intenção era "homenagear" o presidente e mostrar o apoio da população a seu governo.

Foram montados cinco palcos - um destinado ao presidente, comitiva e convidados, com capacidade para 200 pessoas, outro para apresentação de show da banda Terra Samba e mais três para acomodar cerca de 800 autoridades do Estado. Prefeitos, secretários, vereadores e outras autoridades de cidades do interior foram mobilizados para comparecer. Por meio de programas de rádio, o prefeito fez convite pessoal para que a população comparecesse ao ato, de carro, bicicleta, ônibus ou a pé. Foi a primeira visita de Lula a Goiânia na gestão de Iris.

O PSOL entrou com representação no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) contra a realização de shows e a suspensão de aulas nas escolas municipais, determinada pela Secretaria Municipal de Educação. "Estão usando recursos públicos em ato que é eleitoreiro", afirmou o vereador Elias Vaz (PSOL). O partido solicitou ainda ao Ministério Público Eleitoral que acompanhasse a programação, para verificar se não haveria abusos. Pediu também ao Ministério Público que investigasse o valor gasto pelo governo estadual e pela prefeitura na recepção ao presidente.

O dia de Lula em Goiás começou em Anápolis, segunda maior cidade do Estado e terra de Meirelles. O prefeito, Antônio Roberto Gomide, é do PT. Lá, deu entrevista para rádios, foi homenageado com o título de Jaguar Honorário e visitou obras da Ferrovia Norte-Sul. Lula, Meirelles, o governador e Iris foram de helicóptero para Goiânia, onde a primeira atividade foi uma visita ao Centro de Referência de Promoção da Igualdade.

O presidente e autoridades participaram de almoço no Palácio das Esmeraldas, sede do governo estadual. Por volta de 16 horas, começou o evento na Praça Cívica, localizada em frente ao palácio. Antes dos discursos, houve lançamento do cadastro eletrônico para o programa habitacional do governo federal Minha Casa Minha Vida, assinatura para ordens de serviço para construção de 5 mil casas populares em parceria entre governos estadual e federal e entrega simbólica de títulos de regularização fundiária de imóveis.

Em discurso com forte caráter eleitoral, Lula disse que o país não poder ser governado apenas "pelo conhecimento do cérebro, mas tem que ser governado pelo sentimento do coração". Afirmou não entender porque os governantes anteriores, "formados e letrados", não governaram para os pobres. Lembrou que, ao assumir o governo o país "não tinha credibilidade" e devia para o FMI. Hoje, disse, é o FMI quem deve para o Brasil. Prometeu que em dois meses será feita licitação para reforma do aeroporto de Goiânia. E, em uma semana, outra licitação, para duplicação da BR-060.