Título: Viabilidade do investimento divide especialistas
Autor: Rittner , Daniel
Fonte: Valor Econômico, 05/08/2009, Brasil, p. A4

A viabilidade do investimento no trem de alta velocidade (TAV) Rio-São Paulo-Campinas ainda não é consenso entre especialistas no setor. Uma das maiores críticas é sobre o custo da obra, estimado em R$ 34,6 bilhões no relatório da Halcrow, consultoria britânica contratada pelo governo. José Alexandre Resende, presidente da WerkShire Infraestrutura e Participações e ex-diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), afirma que o projeto não para em pé se não houver subsídio de pelo menos 50%.

Para ele, o custo é muito alto para o Brasil "se dar ao luxo" de implementar o empreendimento e o país "perdeu o bonde" do trem-bala. "Faria muito mais sentido gastar esse dinheiro em dez cidades diferentes, aplicando R$ 3 bilhões em cada uma delas para expandir a rede de metrô, o que resolveria um problema crônico de transporte público de massa", completa Resende, citando outra prioridade. Ele avalia que a travessia da Serra do Mar, da Serra das Araras e de vários centros urbanos torna inviável o investimento no TAV brasileiro.

O engenheiro Fábio Tadeu Alves, especializado em planejamento e sistemas de trens de alta velocidade, pondera que o valor do investimento não deve ser visto isoladamente, mas considerando vantagens e benefícios indiretos. Segundo ele, a adoção de um trem-bala entre duas cidades densamente povoadas pode desenvolver novos setores da economia. "Principalmente o setor imobiliário, no entorno das estações, mas se potencializa a pesquisa ferroviária e as indústrias metalúrgica, eletrônica e de engenharia civil", diz Alves. Além disso, trata-se de uma grande oportunidade para reorganizar concentrações urbanas que tiveram crescimento desordenado.

O relatório da Halcrow indica nove "vantagens associadas" à implantação e à operação do trem: indução ao desenvolvimento regional, aliviando áreas de maior densidade urbana; redução de gargalos dos subsistemas de transporte aeroportuário, rodoviário e urbano; postergação de investimentos na ampliação e construção de rodovias e aeroportos; menor uso do solo comparado à construção ou ampliação de rodovias; redução de impactos ambientais e emissão de gases poluentes em decorrência do desvio da demanda do transporte aéreo e rodoviário; redução dos tempos de viagem associados à baixa probabilidade de atrasos; aumento do tempo produtivo para os usuários; geração de empregos; queda do nível de congestionamento e do número de acidentes em estradas.

Grupos japoneses, alemães, franceses, espanhóis, coreanos, italianos e chineses já demonstraram interesse em participar da licitação do TAV brasileiro, cujo edital deve sair até o fim deste ano. O primeiro grupo a confirmar a intenção de disputar o projeto, após a divulgação dos estudos da Halcrow, foi o francês. Liderado pela Alstom, prevê a operação do sistema pela SNCF. De acordo com Philippe Delleur, presidente da Alstom no Brasil, os quatro grandes bancos franceses instalados no país estão desenhando um pacote para financiar toda a parte importada do TAV. Ele garante que a empresa está disposta a transferir tecnologia, mas diz a construção da infraestrutura provavelmente precisará de algum subsídio oficial. (DR)