Título: Sem opção, Chávez mantém comércio com a Colômbia
Autor: Uchoa, Rodrigo
Fonte: Valor Econômico, 05/08/2009, Internacional, p. 0

Uma semana depois de o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ter "congelado" as relações com a Colômbia e ameaçado cortar as importações do país vizinho, nada ainda aconteceu. Autoridades venezuelanas confirmam que a fronteira entre os países não está fechada. Exportadores colombianos dizem esperar uma queda no comércio com a Venezuela, mas como resultado de um processo que já vem se desenrolando desde o começo do ano.

Javier Díaz, presidente da Associação Nacional de Comércio Exterior da Colômbia (Analdex), prevê uma redução de 10% da venda de produtos do país para a Venezuela, e de 15% para o Equador. Mas, no curto prazo, isso não deve mexer com a maior parte do comércio entre os países, afirma.

"A Venezuela é uma economia que tem o petróleo como 90% de sua base. Por isso depende dos bens básicos importados para atender a sua população. E a Colômbia é o fornecedor natural de alimentos, remédios, roupas e outros bens", afirma Díaz. "Para a Venezuela, será mais caro comprar em outros mercados."

Díaz reconhece que a Venezuela já vinha buscando outros fornecedores, para depender menos da Colômbia. "Também estamos explorando outros mercados para diversificar nossos compradores", diz. "Mas, até agora, nada mudou."

A Câmara Venezuelana-Colombiana de Comércio (Cavecol) diz esperar um retrocesso de 12% nas relações de compra e venda entre os dois países. Segundo a entidade, no primeiro semestre deste ano as compras venezuelanas de produtos colombianos já caíram 3%. As compras colombianas (praticamente só combustível), por sua vez, registraram queda em valor de 56%. No ano passado, o comércio bilateral chegou a US$ 7,3 bilhões.

O vice-presidente da Venezuela, Ramón Carrizalez, confirmou ontem não haver barreiras alfandegárias extras ou fechamento da fronteira. Disse só que a relação com o vizinho está em revisão.

Já o presidente da Fedecámaras (associação empresarial) do Estado venezuelano de Zulia, Néstor Borjas, disse que a importação de alimentos diminuiu e que isso pode afetar o abastecimento do país.

Pelos dados oficiais colombianos, há uma queda sensível nas compras venezuelanas de açúcar, ovos e lácteos, por exemplo. A Venezuela chegou a comprar 7,3 mil toneladas de ovos colombianos de janeiro a maio do ano passado; no mesmo período deste ano, caiu para 950 toneladas. As compras de açúcar caíram de 21 mil toneladas para 205 toneladas.

Teresa López, diretora da associação venezuelana de produtores de laticínios, Cavelácteos, disse que essa baixa se dá por conta da falta de licenças de importação, e não por uma política de boicote.

Já o presidente da Federação Bolivariana de Agricultores e Pecuaristas da Venezuela (Fegaven), Balsamino Belandria, afirmou que a culpa não é da falta de licenças de importação. Para ele, o importante é parar de comprar carne da Colômbia e começar a produzir na Venezuela.

"A Colômbia leva em conta a lógica capitalista. Nós temos de pensar no desenvolvimento", disse o presidente da associação, que é ligada ao governo.

(Com agências internacionais