Título: Queda de juro reforça demanda por máquinas
Autor: Góes , Francisco
Fonte: Valor Econômico, 04/08/2009, Brasil, p. A4

A redução dos juros do BNDES no financiamento aos bens de capital aumentou a demanda de indústrias interessadas em antecipar investimentos para ampliar capacidade ou modernizar fábricas. Só na primeira semana de operação das novas condições financeiras, com juros que variam de 3,5% a 7% ao ano, ingressaram na Finame, linha do BNDES que financia máquinas e equipamentos, cem operações que somam financiamentos de cerca de R$ 50 milhões. Em junho, produção e consumo de máquinas já cresceram, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq).

Em julho, clientes de grandes fabricantes de máquinas como Kepler Weber, Romi, Gasparini, Cisper, entre outras, voltaram a cotar preços para fazer novas encomendas e os fabricantes reforçaram as equipes de vendas para informá-los das novas condições.

A demanda pela linha de financiamento do BNDES com juros reduzidos deve ser puxada, a curto prazo, pelos bens de capital seriados, incluindo diferentes tipos de máquinas usadas pela indústria. Já nos bens de capital sob encomenda, que considera equipamentos para grandes projetos industriais na siderurgia e petroquímica, por exemplo, a decisão de investimento deve demorar mais.

Mário Bernardini, consultor econômico da Abimaq, espera que as medidas de estímulo provoquem uma recuperação mais forte no segmento de máquinas-ferramenta (bens seriados sob encomenda). "O que se sabe é que outras indústrias estão fazendo mais pedidos de cotação para as indústrias de máquinas-ferramenta, mas a venda demora pelo menos um mês entre o orçamento e a liberação do recurso pelo banco", afirmou Bernardini.

Até o fim do ano o BNDES dispõe de cerca de R$ 41 bilhões para financiar a compra de bens de capital e inovação em diferentes setores da economia com juros reduzidos. Desse total, R$ 18,5 bilhões servirão para a compra de ônibus e caminhões com juros de 7% ao ano. Há ainda R$ 12 bilhões com juros de 4,5% ao ano para compras de máquinas agrícolas e outros bens de capital. O programa Procaminhoneiro tem R$ 1 bilhão, também com custo de 4,5% ao ano, para apoiar a compra de caminhões. O restante será usado para financiar a exportação de bens de capital e inovação .

Anastácio Fernandes Filho, presidente da Kepler Weber, fabricante de silos e equipamentos para armazenagem de grãos, disse que após o anúncio da redução dos juros o volume de cotações encaminhadas pelos clientes cresceu "muito". Segundo ele, a medida coincidiu com o crescimento sazonal das encomendas, que ocorre entre maio e setembro, e também com a percepção de que a crise está ficando para trás. "O mercado estava um pouco represado, até porque já esperava esse corte de taxas, mas agora estamos bastante otimistas", afirmou o executivo.

A Gasparini do Brasil, que produz máquinas-ferramenta, recebeu maior número de consultas e encomendas a partir de junho, diz o diretor-geral da empresa, Aldecy Knabben. Na avaliação do executivo, porém, o aumento da demanda em junho e julho não foi fruto do programa de juros reduzidos. "As encomendas fechadas eram de projetos que já tinham financiamento da Finame aprovado há mais tempo. A sensação que tenho é que as empresas estavam esperando sinais efetivos de recuperação da economia para colocar em prática seus projetos de investimento", afirma Knabben.

"Espero que com os financiamentos mais baratos haja aumento dos investimentos pelas empresas", afirma Knabben. Por enquanto, diz, as indústrias de panificação, de luminárias e de caixas automáticos foram as que aumentaram as encomendas em relação ao ano passado. "Empresas que prestam serviços de caldeiraria (peças dobradas) também elevaram as encomendas. Mas as de equipamentos agrícolas, de transporte rodoviário e máquinas do setor de terraplenagem ainda não reagiram."

A Yaskawa, que produz equipamentos de automação industrial para os setores automobilístico, siderúrgico e para outros fabricantes de bens de capital, ainda não sentiu expansão da demanda, porque as indústrias de bens de capital ainda estão estocadas, avalia o diretor-geral da empresa, José Luiz Rubinato. "A reação começa primeiro nos estoques. Quando eles baixam, as empresas de insumos começam a receber as encomendas. Por enquanto as indústrias de máquinas ainda não estão encomendando", afirma Rubinato.

A Taurus Wotan, fabricante de máquinas operatrizes controlada pela Forjas Taurus, espera que a nova linha de crédito ajude a empresa a recuperar pelo menos parte da queda de 20,7% na receita líquida no segundo trimestre em comparação com igual intervalo de 2008. "Ainda não fechamos nenhuma operação na nova condição, mas a área de vendas percebeu que os clientes estão bastante entusiasmados", disse o presidente do grupo, Luis Fernando Costa Estima.

De acordo com ele, com o corte dos juros a tendência é que as empresas antecipem para este ano os investimentos em máquinas e equipamentos originalmente programados para os exercícios seguintes, de olho na recuperação do nível de atividade da indústria. A Ciber, fabricante de equipamentos de construção e manutenção de estradas, espera aumentar a receita e as vendas físicas de 2009. A previsão, que era de alta de 10% sobre o ano passado, passou para 15% ou 20%, disse o diretor-presidente da empresa, Walter Rauen.

Em 2008, a Ciber vendeu 334 máquinas e faturou R$ 245 milhões. Agora, de acordo com o executivo, a expectativa é que encomendas que seriam feitas em 2010 ou 2011 sejam antecipadas para este ano. Os novos pedidos ainda não começaram a chegar, mas as equipes de vendas da empresa já estão dando orientações às empreiteiras e construtoras no país sobre as novas condições do BNDES. "Nem todos os clientes conhecem a nova linha e é importante lembrar que os bancos oficiais provavelmente serão os maiores interessados em liberar os financiamentos", comentou.

Francisco Crema, diretor de repasses do Itaú BBA, disse que a demanda na Finame está "altíssima". O banco está fazendo um trabalho de levar até os clientes as mudanças nas linhas do BNDES. "Já ouvimos empresas que decidiram antecipar investimentos em máquinas e equipamentos que só fariam no ano que vem para aproveitar as novas condições de financiamento que, em alguns casos, são de juro real zero", disse Crema.

Cláudio Bernardo Guimarães de Moraes, superintendente da área de operações indiretas do BNDES, disse que empresas que tiveram financiamentos aprovados na Finame pelas antigas condições poderão pedir o cancelamento dessas operações, para contratação de outro empréstimo com juros menores, desde que as liberações de recursos ainda não tenham começado. Moraes disse que os próprios produtores de bens de capital também podem contratar financiamentos para ampliar ou modernizar seus parques produtivos. Se o fabricante tiver um projeto de inovação tecnológica, pode se financiar com juros de 3,5% ao ano.

A Indústrias Romi, líder nos mercados de máquinas-ferramenta e máquinas para plásticos, estuda a contratação de financiamento do BNDES para bens de capital com juros reduzidos, incluindo a linha de inovação. Ela investe, historicamente, 4% de sua receita operacional em pesquisa e desenvolvimento. Livaldo Aguiar dos Santos, diretor-presidente da Romi, disse que, no segundo trimestre, já houve melhora da demanda em alguns segmentos em relação aos três primeiros meses do ano, em função de aspectos sazonais.