Título: Lupi critica saída de confederações e defende novas entidades no Codefat
Autor: Galvão , Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 07/08/2009, Brasil, p. A2

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, disse ontem que lamenta a saída de quatro confederações patronais do Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat), mas aproveitou a oportunidade para criticar duramente a postura da presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu (DEM-TO). Ontem, durante entrevista coletiva para divulgar os números do emprego formal em 2008, Lupi disse que a senadora "está acostumada a lidar com boi no pasto e pensa que todo mundo é assim". O representante da CNA, por acordo de rodízio, tinha o direito à eleição para a presidência do conselho, mas perdeu por quebra de acordo que elegeu um indicado por Lupi.

Os comentários de Lupi sobre a crise do Codefat vinham sendo moderados até ontem, quando procurou ressaltar que a presidente da CNA "queria fazer do Codefat um senadinho da oposição". Para reforçar seus argumentos, afirmou que o fundo é do trabalhador e, na sua visão, a saída das entidades da agricultura (CNA), indústria (CNI), comércio (CNC) e sistema financeiro (Consif) não tira legitimidade do conselho. Ele deu sinais que vai defender a substituição delas por outras entidades. Para isso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem de publicar outro decreto sobre o funcionamento do Codefat.

A presidente da CNA não quis dar entrevistas, mas divulgou nota "lamentando o teor das declarações e o estilo usado por um ministro de Estado". Ontem, a Ação Empresarial, entidade coordenada por Jorge Gerdau Johannpeter, publicou nota de solidariedade às quatro confederações que abandonaram o Codefat. "Preocupa-nos a governança do FAT nessa nova quadra que, pela primeira vez na história do fundo, apresenta para este ano previsão de déficit operacional de R$ 3,7 bilhões. Para 2010, a projeção de déficit é de R$ 7,8 bilhões, agravado com a implementação de novas políticas de financiamento que retiram recursos do BNDES e de projetos de infraestrutura", afirma a nota.

O ministro do Trabalho disse que esperava mais independência das entidades que têm representação no Codefat, porque, na sua opinião, a senadora é uma "andarilha do ódio", mas esperava que isso não contaminasse os demais. Lupi insistiu que não interferiu na eleição, realizada semana passada, para que o comando do Codefat ficasse com o presidente da Confederação Nacional de Serviços (CNS), Luigi Nese. Dessa maneira, Fernando Antonio Rodriguez, candidato indicado pela CNA e apoiado por CNC, CNI e Consif, desistiu.

A renúncia das quatro entidades ao conselho, criado há 19 anos, foi uma reação ao que elas chamaram de interferência indevida de Lupi no acordo que prevê rodízio entre as três bancadas paritárias de trabalhadores, empregadores e governo. O Codefat é responsável pela gestão de um patrimônio de quase R$ 160 bilhões do FAT.

Para o ministro, a derrota da candidatura da CNA ocorreu por falta de articulação com as demais entidades empresariais. O fato de o reconhecimento das centrais sindicais ter sido contestado na Justiça pelo DEM também foi, para Lupi, motivo de irritação dos representantes dos trabalhadores.

O destino do Codefat sem CNA, CNI, CNC e Consif está sendo analisado "tecnicamente", segundo o ministro. Ele afirmou que está avaliando se será possível indicar outras entidades empresariais, como, por exemplo, a Confederação Nacional dos Transportes (CNT) e a Confederação Nacional da Saúde (CNS).

Lupi rebateu o pedido, aprovado pelos senadores, para que o Tribunal de Contas da União analise convênios e contratos autorizados pelo Codefat nos últimos dois anos. Ele ressaltou que o orçamento do FAT tem de ser votado pelo Congresso. "Se alguns não leem antes de votar, não é culpa minha."