Título: Dilma de olho em dois palanques
Autor: Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 06/06/2010, Cidades, p. 35

Além do apoio natural do concorrente petista ao GDF, a candidata do presidente Lula ao Planalto pode ganhar outra guarida no Distrito Federal

Um palanque é pouco. Dois, é bem melhor. Quando o assunto é suporte eleitoral, a ambição da presidenciável Dilma Rousseff no Distrito Federal é no plural. A candidata do PT para suceder Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto não anda desprezando apoio, ao contrário. Na capital da República, ela trabalha com a certeza de um palanque natural, capitaneado pelo concorrente petista ao GDF. E a perspectiva de outro abrigo, que pode se formar como uma alternativa ao PT e a Joaquim Roriz (PSC).

Dilma confiou ao senador Gim Argello (1)(PTB) a discreta missão de garantir um plano B no Distrito Federal caso a candidatura de Agnelo Queiroz não decole. Ele é, obviamente, a primeira opção do partido. É o preferido de Lula e foi trabalhado para ser candidato desde o dia em que saiu do PCdoB e migrou para o PT, em meados de 2009. Mas em tempos de crise, com escândalos surgindo a cada semana, o grupo ligado a Dilma considera que costurar uma alternativa não faz mal algum. Só aumentaria a receptividade à candidata petista no DF.

Para Gim Argello a tarefa é um presente. Com a aprovação do PT nacional e, especialmente de Dilma, o senador entrou no circuito da eleição indireta do governador Rogério Rosso. Ele foi uma das peças importantes para os acertos finais sobre o processo de sucessão confiado aos distritais. Sinal claro do interesse de Gim na eleição indireta é que foi ele quem bancou a estada dos 11 distritais que viajaram na véspera da votação na Câmara para Goiânia, em 17 de abril, com o objetivo de se concentrarem para a decisão que planejavam tomar em bloco. O senador do PTB não só orientou os dois distritais de seu partido a votar em Rosso, ignorando o candidato Luiz Filipe, da mesma sigla, como influenciou a decisão de outros deputados.

Ao lado de petistas, Gim foi mensageiro das bênçãos do PT para a eleição de um peemedebista no DF. Ao tornar-se um aliado de Rosso, ele pavimenta uma composição que não é de toda improvável. O PMDB de Tadeu Filippelli quer o PT de Agnelo. Mas a vontade do chefe do partido pode não se confirmar nas convenções. Há uma outra ala do partido que defende candidatura própria, que poderia ser com liderada por Filippelli ou pelo próprio Rosso.

O governador nega qualquer intenção de concorrer em outubro, mas não convence nem os próprios colegas de legenda. ¿Não tenho dúvida de que adiante vai valer não a palavra empenhada sobre o distanciamento das urnas, mas as condições reais, apontadas em pesquisas, sobre as chances de um bom desempenho. Se o cenário for positivo, Rosso concorrerá sim¿, avalia um integrante do PMDB com assento na executiva regional. Em entrevista ao Correio na última sexta-feira, o governador não quis comentar qual caminho o PMDB vai seguir. Mas considerou que a legenda deve ¿levar em consideração a vontade do eleitor¿.

Dois cenários Em dois cenários ¿ ambos pressupondo que a coligação PMDB e PT não seja validada nas convenções dos partidos ¿ Gim planeja montar o palanque alternativo para Dilma. O primeiro deles, numa composição com o PMDB, o senador do PTB sairia candidato ao Senado apoiando Filippelli ou Rosso para a cabeça da chapa. Outra possibilidade, essa menos provável, é que Gim seja candidato ao Palácio do Buriti. Nos dois casos, o palanque alternativo de Dilma estaria à disposição e ao gosto do PT nacional, que, quanto a Brasília, tem apenas uma preocupação: a de não deixar que o adversário da petista, o candidato do PSDB, José Serra, consiga apoio na capital. Serra não vai com Roriz, nem com o PT. Mas não teria dificuldade de receber apoio de um grupo formado pelo PSDB, DEM e ¿ quem sabe ¿ até do PMDB, que, eventualmente, poderia estar numa composição como essa. O que tornaria essa junção improvável seria a presença de Gim. Ele funciona como um atrativo de Dilma e um impeditivo de Serra. No plano nacional, o PTB fechou apoio ao tucano. Mas Gim será liberado para fazer uma dobradinha com o PT no Distrito Federal dada a proximidade que tem com a candidata de Lula.

Para não dar brechas aos tucanos e garantir Dilma Rousseff como cabo eleitoral, o senador tem colado no PMDB sem cerimônias. Gim tem feito o papel de cicerone de Rogério Rosso no Palácio do Planalto. Aproximou o governador do chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, e tem procurado se manter bem ativo nos assuntos mais palpitantes do governo local. A formação da nova diretoria do BRB, anunciada na semana passada, por exemplo, tem o dedo de Gim, que foi responsável pela indicação do petebista Christian Schneider para a diretoria de controle do banco. Schneider ingressou na política pelas mãos do senador. O secretário de Fazenda, André Clemente, também é filiado ao PTB do DF.

Enquanto PT e PMDB discutem a relação, o PTB de Gim se apressa para colocar em prática a estratégia da turma de Dilma, a de que dividir os palanques no DF pode agregar vantagens à candidatura presidencial. O entendimento é de que, num eventual segundo turno, PT, PMDB e PTB estariam todos juntos.