Título: Depois do Planalto, Casa é a prioridade de oposição e governo
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 27/08/2009, Política, p. A8

A disputa pelas 54 vagas que irão se abrir no Senado é tratada como segunda prioridade tanto para a oposição quanto para o governo, logo depois da disputa pelo Palácio do Planalto. A base aliada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não quer repetir o erro de ganhar o governo e não ser maioria no Senado - o que lhe causou derrotas importantes, a da prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).

A oposição, por sua vez, representada pelo PSDB e pelo DEM, tem um candidato a presidente competitivo - o governador José Serra (PSDB), de São Paulo - e não quer perder a força que tem no Senado. Uma das estratégias do PSDB é priorizar as candidaturas à Casa ao fazer alianças nos Estados menores, como Amapá, Roraima e Rondônia, por exemplo.

O PSDB espera também conquistar uma vaga de senador em Estados importantes, como São Paulo - principalmente pelo fato de ter candidato forte a governador -, onde hoje há apenas governistas.

Mas, dependendo da situação local, a prioridade da oposição muda, para garantir palanque forte ao candidato a presidente. É o caso do Espírito Santo, onde o deputado Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB) pode abrir mão da disputa ao Senado - considerada mais tranquila - e se lançar a governador.

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), está otimista. "No passado, o PT elegeu muitos senadores porque havia a maré Lula. Agora o candidato a presidente mais forte é tucano", diz. O mesmo fator é ressaltado pelo presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ). "A expectativa é, ao menos, manter a atual bancada", diz Maia. No DEM, a prioridade é trabalhar pela reeleição de lideranças expressivas, como José Agripino (RN), Marco Maciel (PE) e Heráclito Fortes (PI).

Para Maia, a atual crise pela qual passa o Senado pode atingir o PMDB, por estar muito identificada com lideranças do partido, como José Sarney (AP) e Renan Calheiros (AL). O dirigente tucano Sérgio Guerra concorda que os reflexos maiores deverão ser sobre o PMDB e outros partidos que se aliaram ao presidente do Senado.

O PT ainda tentar aliar os interesses do partido nos Estados à estratégia nacional da campanha da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Segundo lideranças nacionais do partido, para reforçar a candidatura de Dilma a presidente, o PT deveria fazer alianças fortes nos Estados, abrindo mão de lançar candidato a governador, quando um partido coligado tiver nome mais forte.

A estratégia é sintetizada no discurso do deputado José Genoino (PT-SP) em 3 de agosto: "Cinco governadores, dez governadores, é fichinha, é uma aspirina efervescente, diante da possibilidade de permanecermos no poder central, no comando do país", diz.

Segundo ele, "é vital" que os palanques estaduais estejam subordinados à campanha presidencial. "Por esta razão, vamos escolher nos Estados um candidato a governador do PT ou de um dos partidos aliados que melhor sirva a essa estratégia nacional. Porque o decisivo é o palanque nacional", afirmou.

Nessa linha, e diante da falta de nome forte do partido, é que o PT nacional cogitou apoiar uma eventual candidatura do deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) ao governo de São Paulo. Mesmo sem definição quanto à cabeça de chapa, a direção nacional ainda defende prioridade a duas candidaturas ao Senado.

Dos 81 parlamentares que integram o Senado (três por Estado), dois terços são renovados a cada oito anos (a cada eleição intermediária ocorre a troca de um quarto dos senadores). Dos 54 que encerram os mandatos em janeiro de 2011, 16 são do PMDB - partido que tem a maior bancada (19).

O DEM, o PSDB e o PT, que têm, respectivamente, 14, 13 e 11 senadores, perderão, cada um, oito senadores de sua bancada. Os demais que saem são: quatro do PDT, três do PR, dois do PTB, dois do PRB, e um do P-SOL, um do PSB e um sem partido (Marina Silva, que deixou o PT para se filiar ao PV).

O PMDB, partido que tem a maior bancada e que também o maior número de senadores em fim de mandato, deve continuar liderando o ranking de senadores, apesar da crise atingindo suas principais lideranças. Isso porque sua estrutura partidária continua sendo a maior do país e o pragmatismo de suas lideranças leva a legenda a se compor com o candidato mais forte - seja da oposição, seja da base de Lula.

As principais lideranças do partido estão inquietas com os reflexos da crise. "O Senado tem até o final do ano para recompor sua relação com a sociedade e fazer as mudanças que a população espera. Senão, no próximo ano, vai haver cobrança em cima dos senadores que disputarem a reeleição", diz o líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR).

Jucá é candidato à reeleição, mas há uma chance de concorrer ao governo do Estado. Em Roraima, o processo de construção de aliança política está parado, aguardando o julgamento do governador José de Anchieta Júnior (PSDB) pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por suposto abuso de poder político em 2006. Se for absolvido, Anchieta será candidato à reeleição. Mas, se for condenado, Jucá tem chance de substituí-lo, porque foi o segundo colocado. Assim, a opção seria a reeleição.

Do lado oposto, daqueles que se expuseram na oposição a Sarney, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) - também em fim de mandato - avalia que ninguém estará livre do prejuízo eleitoral. "A crise afeta a todos sem exceção. É o Senado que está cada vez mais com a imagem completamente deteriorada", afirma.

O caso de Tasso é emblemático das dificuldades de alianças partidárias locais. Sem um nome forte do PSDB para lançar ao governo do Estado, Tasso corre o risco de entrar na disputa isolado, enfrentando o governador Cid Gomes (PSB), que tem uma aliança com PMDB e PT.

Cid, candidato à reeleição, tem compromisso de lançar o deputado federal Eunício Oliveira (PMDB) em sua chapa para o Senado. E o PT pressiona o governador para que o ministro José Pimentel (Previdência) seja candidato a senador na outra vaga. Tasso ainda enfrenta o desafio de lançar um nome ao governo, para montar palanque no Estado ao candidato do PSDB à Presidência.

O Rio Grande do Norte é um dos raros Estados em que os atuais senadores que terminam o mandato em janeiro de 2010 - José Agripino (DEM) e Garibaldi Alves (PMDB) - têm boas chances de reeleição. Os dois têm bom desempenho nas pesquisas, principalmente se estiverem na mesma chapa da senadora Rosalba Ciarlini (DEM), candidata a governadora, mas devem enfrentar a governadora Wilma de Faria (PSB).

O senador Heráclito Fortes (DEM-PI), primeiro-secretário do Senado, também precisa renovar seu mandato em 2010. Ele reconhece que os atuais senadores estão desgastados pela crise, mas não o Senado, como instituição. "Eu viajo muito e vejo revoltas pontuais", diz ele.

Para Heráclito, seus primeiros quatros anos de mandato foram "maravilhosos", mas a segunda metade foi marcada por crises. A única atuação foi em torno da derrubada da prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Heráclito tem boas chances, mas ressalta que a eleição é a única forma de o Senado ser mudado. "Fora isso é golpe."

Gerson Camata (PMDB-ES), que encerra seu terceiro mandato consecutivo na Casa, se diz "desanimado" e não sabe se disputará a reeleição. A consequência mais grave, diz, foi a paralisação do plenário. "Peço a Deus que o eleitor reaja." (RU)