Título: Eleitor de Paim ignora crise na Casa
Autor: Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 27/08/2009, Política, p. A9

Quando o senador Paulo Paim (PT-RS) desembarcou no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, perto do meio-dia de quinta-feira, dia 20, os principais jornais do país davam destaque à crise política gerada na véspera pelo arquivamento de onze denúncias e representações no Conselho de Ética contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). A decisão, apoiada pelo PT, prometia tomar conta da pauta do dia, mas horas depois, e para surpresa do próprio senador, um roteiro por quatro cidades no interior do Estado mostrou que na vida real o assunto estava longe de tirar o sono dos eleitores.

Nas duas prefeituras que visitou, em Westfália e Venâncio Aires, e na universidade Univates, em Lajeado, a preocupação maior dos interlocutores era com a liberação de verbas para a compra de equipamentos e obras e com o apoio à tramitação de projetos de lei. Numa reunião no Sindicato dos Metalúrgicos de Venâncio Aires e num jantar para 300 pessoas no salão paroquial de Santa Clara do Sul, o público só queria saber das negociações com o governo para o aumento das aposentadorias e para o fim do fator previdenciário, especialidades do senador gaúcho.

Ex-metalúrgico, 59 anos, casado e pai de cinco filhos, Paim é o único candidato declarado a uma das duas vagas ao Senado. O senador Sérgio Zambiasi (PTB) desistiu da reeleição e Pedro Simon (PMDB) está no meio do quarto mandato. O ex-governador Germano Rigotto (PMDB) admite entrar na disputa e o deputado federal Beto Albuquerque (PSB) é lembrado para concorrer em chapa com o PT, mas por enquanto apresenta-se como pré-candidato ao governo.

Paim aceitou a companhia do Valor durante o roteiro que se estendeu até as 23h pelas quatro cidades. Ainda no aeroporto, foi abordado por eleitores e sindicalistas que ora queriam falar sobre aposentadoria, ora sobre a crise. No carro, boa parte dos telefonemas que atendeu era de jornalistas interessados nas consequências dos votos dos senadores do PT no Conselho de Ética.

"A bomba caiu no colo do PT. Não elegemos o Sarney (à presidência do Senado) e no fim ficou a impressão de que só o partido votou (pelo arquivamento das denúncias)", desabafou o senador, que assim como a maior parte da bancada, defendia a investigação. Para ele, os senadores do PT "votaram constrangidos" e não é hora de "atirar pedras" em ninguém, mas de "juntar os cacos".

Paim não escondia a vontade de "testar" o impacto da crise na opinião dos eleitores. Defensor de longa data do aumento do salário mínimo e de regras mais favoráveis para os aposentados e pensionistas do INSS, ele queria conferir se suas bandeiras históricas garantirão a travessia tranquila de mais essa tempestade política sobre o PT e o ajudarão a se reeleger pelo partido em 2010.

Quando questionado, ele não se nega a comentar as turbulências no Senado e na maior parte das vezes, durante a viagem, tomou a iniciativa de trazer o assunto à tona para marcar posição: Sarney deveria ser investigado e se licenciar do cargo. Mesmo assim, o senador afirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "tem razão" ao afirmar que a saída de Sarney por si só não vai resolver um problema que é "institucional".

Mas foi nos debates sobre a Previdência que o senador cativou uma audiência curiosa, atenta e até ansiosa. No sindicato dos metalúrgicos e no salão paroquial, respondeu a dezenas de indagações. "É uma questão de honra acabar com o fator previdenciário ainda no mandato do presidente Lula; ele está sensível a isso", afirmou Paim, que chamou a atenção dos sindicalistas, trabalhadores, estudantes, aposentados e donas de casa para o fato de que o mecanismo foi implantado "durante o governo anterior, de Fernando Henrique Cardoso". O senador tem quatro projetos sobre a Previdência e espera chegar a um acordo com o governo em relação a pelo menos dois deles.

O primeiro elimina o fator e as negociações com o governo indicam que o mecanismo será substituído pela fórmula 85/95, na qual a soma da idade e do tempo de contribuição necessários para obter a aposentadoria será de 85 anos para as mulheres e 95 para os homens. Ele espera ainda garantir aumento real às aposentadorias superiores a um salário mínimo a partir de 2010.

Em Westfália, uma cidade de 2,8 mil habitantes, o senador recebeu uma homenagem do prefeito Sérgio Marasca (PT) pela liberação de uma emenda que ajudou a comprar uma retroescavadeira e já recebeu novas reivindicações, como o apoio à regulamentação de uma rádio comunitária e a obras contra enchentes. "Até o fim deste mandato todas as prefeituras receberão pelo menos uma emenda minha", disse o senador.

Em Venâncio Aires, o prefeito Airton Artus (PDT) recepcionou Paim afirmando que a "tendência" do partido é unir-se ao PT na disputa pelo governo do Estado. Depois, também pediu ajuda para a instalação de uma unidade de pronto atendimento de saúde e disse que o senador se descola da crise "com temas como a Previdência". Em Lajeado, beneficiada por uma emenda de R$ 200 mil do senador para uma incubadora tecnológica, recebeu outro pedido. O reitor da Univates, Ney Lazzari, solicitou apoio para a aprovação do projeto que amplia os benefícios do Programa de Financiamento Estudantil (Fies) para alunos carentes.