Título: EUA podem ampliar transferência de tecnologia, diz assessor de Obama
Autor: Leo , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 06/08/2009, Brasil, p. A2

Os Estados Unidos estão interessados em ampliar os acordos de cooperação e transferência de tecnologia com o Brasil, informou o assessor de Segurança Nacional dos Estados Unidos, James Jones, ao ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim. A oferta foi interpretada pelo governo brasileiro como uma tentativa de fortalecer a candidatura da Boeing ao fornecimento de caças à Força Aérea Brasileira. Um dos membros da comitiva de Jones reconheceu ter sido um erro do governo americano, na gestão de George W. Bush, vetar a venda de aviões Supertucano à Venezuela, por incluírem componentes fornecidos pelos EUA.

Jones combinou com Amorim que os dois governos estreitarão contatos na área militar, para evitar problemas como a crítica do governo brasileiro - acompanhado por outros governos sul-americanos, inclusive o Chile - contra o uso de bases colombianas pelas Forças Armadas dos EUA. Amorim disse a Jones que o governo brasileiro gostaria de ver a criação de restrições legais ao uso das bases, limitando-as ao combate ao narcotráfico em território colombiano e ajuda humanitária no país. Acertaram a vinda, ao Brasil, do chefe do Comando Sul dos EUA, general Douglas Fraser, para discutir o assunto.

A variada agenda nas conversas entre Amorim e um dos principais conselheiros do presidente americano, Barack Obama, em matéria de política externa, foi descrita pelos dois como cordial e produtiva. A menção à transferência de tecnologia reflete a mudança de visão na administração Obama sobre os acordos de venda de armamentos. Sem os Supertucanos brasileiros, citados por Amorim na conversa com Jones, Chávez aproximou-se mais da Rússia, de quem adquiriu caças e outras armas. O governo Obama fez fazendo lobby pela Boeing, que ofereceu produzir jatos nas instalações da Embraer, com oferta generosa de transferências tecnológicas.

O caso das bases tomou grande parte das conversas entre Jones e Amorim, que também trocaram impressões sobre a situação política em Honduras (Amorim pediu atitudes enérgicas, como o bloqueio de contas dos golpistas que derrubaram o presidente Manuel Zelaya), os conflitos no Oriente Médio e as chances de concluir as negociações da rodada de liberalização comercial na Organização Mundial do Comércio.

Jones se mostrou disposto a colaborar o máximo possível para reduzir as tensões levantadas com a resistência do continente às bases na Colômbia e as acusações do governo colombiano de que são do arsenal venezuelano armas capturadas com a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). À saída do encontro, o general reconheceu erros de "comunicação", e garantiu que não haverá instalação de bases dos EUA, mas uso, por pessoal americano, de bases sob comando da Colômbia. "Poderíamos ter feito um trabalho melhor, se houve erros, foram de omissão, e não de intenção."

Amorim, na conversa reservada, disse estranhar o amplo alcance de voos dos aviões destacados para as bases, e lembrou que, no governo anterior, um general americano acusou a tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai de abrigar terroristas e simpatizantes. O Congresso americano votou disposição incluindo a Venezuela entre países coniventes com o narcotráfico, apontou Amorim, lembrando que a instalação de efetivos militares estrangeiros na região desperta desconfianças generalizadas.

Apesar dos desentendimentos em torno das bases, o emissário de Obama insistiu no interesse do governo americano em trabalhar acordos na região e fez questão de manter conversas com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e da Casa Civil, Dilma Rousseff, com quem trocou informações sobre a política de energia, as propostas brasileiras para mudança climática, e a possibilidade de financiamento dos EUA à exploração de petróleo na camada pré-sal do litoral brasileiro. O governo americano tem interesse em trabalhar com a maior "transparência", em acordo com os governos da região, insistiu James Jones, repetidamente.