Título: Para Meirelles, é possível manter cargo se filiado
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 06/08/2009, Política, p. A9
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, indicou que pretende permanecer no cargo mesmo depois de uma eventual filiação partidária para disputar as eleições do ano que vem. O prazo legal para as filiações partidárias termina em setembro, e os ministros candidatos devem deixar os cargos até o começo de abril.
Meirelles disse que deverá tomar duas decisões. Primeiro, em setembro, decidirá se se filia a um partido político. Caso se filie, a decisão seguinte, a ser tomada até o começo de abril, será sobre uma eventual candidatura.
Ao separar o processo de decisão em duas etapas, ele sinaliza que não pretende deixar a presidência do BC apenas por ter se filiado a algum partido. Questionado por jornalistas sobre eventual conflito, após audiência pública no Senado, disse não haver incompatibilidade em se manter à frente do BC e ter filiação partidária.
"Existem presidentes de bancos centrais que são filiados a partidos políticos", disse Meirelles, se citar nomes. Nos bastidores do governo, o exemplo mais lembrado é o de Gustavo Franco, que, quando presidente do BC, era filiado ao PSDB. "Existem presidentes de bancos centrais que posteriormente seguiram carreira política." Não há exemplos no Brasil. O ex-presidente italiano, Carlo Ciampi, comandou o Banco Central daquele país. Segundo Meirelles, o essencial é não ser, ao mesmo tempo, candidato e presidente do BC.
Entre os especialistas em política monetária, porém, há quem veja conflito de interesse pelo simples fato de o presidente do BC postular uma candidatura no ano que vem. As decisões de política monetária agem com defasagem, e os cortes de juros feitos a partir de agora vão afetar o crescimento e a inflação do ano das eleições.
Meirelles não acha que sua indecisão cause instabilidade econômica. "O que gera segurança é tomar a decisão na hora certa", afirmou o presidente do BC. "Atitude impensadas e fora da hora é que geram insegurança"
Segundo apuração do Valor, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já disse a Meirelles que, caso decida se filiar a algum partido, poderá permanecer no cargo até o início de abril de 2010.
Ontem, em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Meirelles foi conclamado pelos senadores Aloizio Mercadante (PT-S) , Roberto Cavalcante (PRB-PB) e Lúcia Vânia (PSDB-GO) a se filiar e sair candidato. "Primeiro, pega o passaporte, depois decide se viaja", disse Cavalcante.
Mercadante levantou o tema candidatura de Meirellles. Ele lembrou que, em 2002, depois de vários nomes do mercado financeiro terem recusado convites para dirigir o BC, o presidente Lula havia o destacado para ir a Washington para fazer a sondagem de Meirelles. "A primeira pergunta que vossa excelência me fez foi se teria que renunciar ao cargo de deputado, ao qual tinha acabado de ser eleito", disse Mercadante. Filiado ao PSDB, Meirelles foi o deputado mais votado de Goiás nas eleições de 2002 e renunciou ao mandato. "Da mesma forma que aquele foi o momento de sair da vida pública, agora é a hora de voltar."
"Desejo que vossa excelência tome a frente da política de Goiás, porque engrandecerá não apenas Goiás, mas o Brasil", disse a senadora Lúcia Vânia.
"O presidente (Meirelles) vai sair daqui candidato", brincou o presidente da CAE, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN).