Título: Governistas dominam comissão e blindam Dilma
Autor: Galvão , Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 12/08/2009, Política, p. A6

No primeiro depoimento da CPI da Petrobras no Senado, a base governista impediu a tentativa da oposição de vincular a ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a irregularidades na estatal. Os aliados do governo descartaram a hipótese de convocar Lina Maria Vieira, ex-secretária da Receita Federal, que declarou ter sido pressionada pela ministra a encerrar rapidamente as investigações nas empresas da família do senador José Sarney (PMDB-AP). PSDB e DEM pretendem revidar e hoje devem convocar Lina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado.

O relator da CPI, Romero Jucá (PMDB-RR), e o presidente da comissão, João Pedro (PT-AM), não permitiram que a oposição votasse requerimentos que pedem a convocação de Lina Maria Vieira, apresentados por Álvaro Dias (PSDB-PR) e Antonio Carlos Magalhães Jr. (DEM-BA). João Pedro disse que os pedidos poderão ser votados na próxima sessão da CPI, na terça-feira, mas já declarou que "a ex-secretária não deve ser convocada". O senador Delcídio Amaral (PT-MS) concordou: "A fatura está liquidada e não há motivo para chamá-la". O relator foi enfático: "Lina não virá. Não tem nenhum fato para que ela seja chamada", disse Jucá, líder do governo. "Dilma não é assunto para falar aqui".

Ontem, no depoimento do secretário interino da Receita Federal, Otacílio Cartaxo, o governo demonstrou controle até mesmo sobre as palavras do depoente. Sentado ao lado de Cartaxo, Jucá avisou, em um momento, que "traduziria" o que o secretário interino estava falando. Chamado para explicar o uso de artifício contábil da Petrobras que teria reduzido o recolhimento de impostos e contribuições, Cartaxo frustrou a oposição e respaldou-se na lei do sigilo "que impede servidores de se pronunciarem sobre a situação fiscal de qualquer contribuinte". Ele evitou falar sobre Lina Vieira, demitida depois que a manobra contábil foi divulgada. Sobre o suposto pedido de Dilma a Lina para que acelerasse investigações de empresa da família Sarney, Cartaxo disse desconhecer o fato.

O governo controla a CPI, com oito dos onze integrantes que integram a comissão. "Pediremos depoimentos em outras comissões se não conseguirmos na CPI", disse Sérgio Guerra (PSDB-PE). Na próxima semana o governo tentará deixar a Receita Federal em segundo plano e focará na Agência Nacional de Petróleo.