Título: Em Roteiro, Collor iguala-se a Lula
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 02/09/2009, Especial, p. A16

Bem vindo ao Paraíso". A placa, cravada de balas, faz referência à praia do Gunga, incluída em qualquer guia turístico como uma das mais bonitas do país. Está fincada no limite entre o asfalto da rodovia AL-420 e os 12km da estrada terra que chega ao município de Roteiro. Foi lá que, há 20 anos, Fernando Collor de Mello conseguiu 87,7% dos votos, proporcionalmente seu melhor desempenho no país.

Essa devoção a Collor, porém, trouxe pouco retorno para Roteiro. Menos de 0,1% das residências têm acesso a esgoto sanitário. Água encanada, só em 37,8% dos lares. Metade da população é analfabeta. A cidade também está no roteiro da violência do Estado. Os carros transitam em baixíssima velocidade pela acidentada estrada de terra e se tornam alvo fácil de assaltantes encapuzados, que param os veículos e tomam os pertences de seus passageiros.

Ali Collor está no mesmo patamar de devoção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Foi ótimo presidente, é trabalhador e honesto. É um rapaz vistoso e o povo fica tudo doido com ele. Fica doido também com o Lula. Eles são ótimos. Todos são bons, não tenho o que dizer desse povo", diz Sebastião dos Santos, 59, sorveteiro. Sua avaliação coincide com a do músico Edvani Nascimento, 37 anos: "É um cara que sabe trabalhar. O tempo que ele passou presidente foi muito bom. Meu pai sempre falava que ele era legal. Desde pequeno escutando isso, ficou".

O encantamento vem adicionado ao modo de falar, "elegante", e a trajetória "em defesa dos pobres". "Quando aparece um para trabalhar pela pobreza aparecem outros mil contra ele. Collor é que nem o Lula. Só ricão pra ver se tira ele. Quando aparece um para trabalhar pela gente o rico quer que só trabalhe para ele", diz o cortador-de-cana José Luciano da Silva, 35 anos, funcionário da usina Caetés e morador de uma simples casa com uma das melhores vistas da cidade, a laguna de Roteiro. "Collor saiu por causa dos poderosos. O povo apoia Collor, ele já mostrou serviço. Se fosse pelos pobres ele teria continuado. Quando veio, Roteiro fechou para olhar o homem. Prometeu muita coisa boa" disse.

Na campanha ao Senado em 2006, Collor chegou no helicóptero "288, o senador do povo" pela manhã, desceu a colina acompanhado da multidão e improvisou um palanque nas escadarias da igreja, de onde avistava a laguna de Roteiro e a imagem de padre Cícero, o "santo nordestino", encrustrada a poucos metros do seu palanque. "Quando ele veio foi o maior assombro, uma euforia. As pessoas comentam até hoje. Foi um dia extraordinário", afirma Alex, o padre da cidade.

"Ele é simpático, o jeito de se comunicar com as pessoas. Ele passou aqui, as pessoas aplaudindo, ele dava a mão, perguntava se tava tudo bem. Já teve gente que veio aqui e nem olhava para nós", afirma Maria Antonia Silva, 50 anos, moradora da principal rua da cidade.