Título: CNI lidera movimento por inovação, com ênfase na melhora do ensino
Autor: Franco, Célia de Gouvêa
Fonte: Valor Econômico, 09/09/2009, Brasil, p. A2

Em mais uma tentativa de mudar a agenda de prioridades do mundo dos negócios, líderes empresariais lançam hoje, em São Paulo, um manifesto a favor da inovação, da necessidade de adoção de práticas que tornem as empresas inovadoras e, desta forma, mais competitivas, em especial em um cenário de crise internacional e na fase que se seguirá à crise. Diferentemente de outras iniciativas nesse sentido, desta vez assume-se que o principal papel nesse projeto de mudanças é dos próprios empresários, embora se defenda um melhor entrosamento com o governo. É também inovadora a constatação de que o maior problema continua sendo o baixo nível da educação dos brasileiros, um aspecto do problema que nem sempre é levado em consideração nesse tipo de movimento.

Além de analisar o quadro de investimentos nacionais em pesquisa e desenvolvimento e mostrar suas deficiências estruturais, o manifesto da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que será divulgado durante um congresso de inovação na indústria, estabelece também uma meta. Pelos seus levantamentos, hoje cerca de 6 mil empresas instaladas no país fazem pesquisa e 30 mil informam inovar em produtos e processos. O objetivo é duplicar o número dessas companhias supostamente inovadoras nos próximos quatro anos, segundo Rodrigo Loures, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná e quem está à frente, na CNI, da mobilização empresarial pela inovação.

A outra meta da indústria é elevar de 0,51% em 2005 para 0,65% do Produto Interno Bruto (PIB) até o próximo ano o investimento privado em pesquisa e desenvolvimento, conforme previsto no Programa de Desenvolvimento Produtivo do governo.

Em um estudo que procura retratar o quadro de inovação no Brasil, Carlos Américo Pacheco, professor do Instituto de Economia da Unicamp, mostra dados preocupantes sobre a infraestrutura, as instituições de pesquisa e as universidades. Especificamente em relação à formação de pessoas preparadas para pesquisar e inovar, o desempenho do Brasil é péssimo, colocando-se em último lugar em um ranking que mede a quantidade de jovens em idade de frequentar universidades que estejam de fato matriculados em cursos superiores, em 29 países, com base em informações da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

A baixa escolaridade brasileira é dos indicadores que mais se distancia da realidade mundial e que mais diferenciam o Brasil em relação ao mundo - apenas 10% dos estudantes na faixa etária adequada estão nas faculdades. Nenhum país, entre as principais economias e entre os emergentes, apresenta indicadores tão precários, comenta Pacheco. Por isso, pede-se que o governo adote políticas de longo prazo na área de educação - além de ampliar os estímulos fiscais para pesquisa e uso do poder de compra do Estado como um fator adicional de incentivo à pesquisa e desenvolvimento de projetos.

Para tentar animar a mobilização das empresas e dos seus principais executivos, a CNI começou meses atrás a promover debates setoriais e com empresas dos mais variados portes antes de congresso marcado para hoje. Além dos representantes das companhias, os debates tiveram a participação do presidente do BNDES, Luciano Coutinho.