Título: Crise no PT deve levar bancada no Senado a perder mais um
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 20/08/2009, Política, p. A11

O apoio intransigente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da direção do PT ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), aprofundou ainda mais a crise que se alastra no partido, no momento em que ele encontra dificuldades para compor suas alianças regionais com vistas às eleições de 2010. Somente ontem a sigla sofreu dois duros golpes: o desligamento da senadora Marina Silva, que deve ir para o PV, e o racha na bancada de senadores que pode levar ao afastamento do líder Aloizio Mercadante (SP).

É o momento mais crítico pelo qual passa o PT, desde que a crise política e administrava tomou conta do Senado. Além da saída de Marina, outro senador, Flávio Arns (PR), disse que também se desligará do PT em virtude da defesa de Sarney feita no Conselho de Ética (que arquivou todos os processos contra o presidente do Senado). Há dúvidas também sobre o destino dos irmãos Viana - o senador Tião e o ex-governador Jorge, que junto com Marina compõem o trio petista que já há quase dez anos comanda a política do Acre.

A direção do PT quer que Mercadante se afaste da função de líder. Mercadante também desgastou-se politicamente com senadores do PT, que não pouparam críticas a ele e o responsabilizaram pela divisão na bancada. Petistas já articulam a eventual condução de João Pedro (AM) à liderança. O senador é candidato à reeleição, em 2010, e segundo alguns petistas, não será surpresa se sua indicação à vaga for contestada no partido.

O embate de Mercadante com o governo e o comando petista começou ontem pela manhã, em reunião de cerca de uma hora e meia, momentos antes da votação no Conselho de Ética do Senado. Na sede provisória da Presidência, Centro Cultural Banco do Brasil, o líder do PT no Senado ouviu que o partido deveria votar a favor do arquivamento de todas as denúncias e representações contra Sarney. Na avaliação do governo, a oposição quer investigar o presidente do Senado para desgastar o pemedebista e implodir a aliança do PT com o PMDB, antecipando a disputa eleitoral de 2010.

Mercadante e parte da bancada defendem a investigação de denúncias. O líder do PT teria se comprometido a ler uma carta, assinada pelo presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), na qual estava a defesa de Sarney pelo PT. Ele, no entanto, reafirmaria que a posição que da bancada era outra.

Além de Mercadante e Berzoini estavam na reunião a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), o ministro Luiz Dulci ( Secretaria Geral da Presidência), o chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, o secretário-geral do PT, deputado José Eduardo Cardozo (SP), o líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (RS), o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), e os três senadores do PT escalados para votar no Conselho de Ética: a líder do governo no Congresso, Ideli Salvatti (SC), Delcídio Amaral (MS) e João Pedro (AM). No recesso, quando Mercadante divulgou uma nota, Berzoini chegou a dizer que o senador estava sendo infantil, precipitado e ansioso.

O acordo foi quebrado por Mercadante na reunião do Conselho de Ética. Ele recusou-se a ler a carta do presidente do PT, que justificava a posição da bancada. A função foi assumida por João Pedro, atitude vista como de comando da bancada no conselho. "Seria muita hipocrisia ler uma carta que eu não concordo. Não era a minha posição", justificou Mercadante. Além de não ler a carta, o líder do PT questionou na reunião do conselho o voto dos senadores do PT a favor de Sarney e disse que aquela não era sua posição. "Os integrantes da bancada se sentiram desamparados pelo seu ainda líder", criticou Delcídio Amaral. "Ele foi fraco ao não defender a bancada. Um líder fraco faz seu exército fraco", disse um petista.

A atitude de Mercadante foi atacada por dirigentes do PT, que ontem defendiam a renúncia dele no cargo e o ameaçam de boicote na eleição de 2010. "Ele não tem mais condições de se manter no cargo", disse um dos participantes da reunião na sede do governo. "A direção do PT não quer que ele continue no cargo. E essa postura vai prejudicá-lo no futuro. Ele que não espere o engajamento do partido em sua campanha por um novo mandato, em 2010", disse outro petista presente no encontro.

O comando do PT, entretanto, não deverá pedir diretamente para que Mercadante saia da liderança. "Seria uma ótima oportunidade para ele sair como vítima. Ele está desgastado, vai ter de sair", disse um dirigente do PT. Mercadante descartou a possibilidade, a curto prazo. "Meu cargo está à disposição. Não saí porque estou em solidariedade à bancada. Não vou deixá-la em um momento tão difícil", disse. O mais cotado, no caso de Mercadante renunciar, é João Pedro, que ganhou prestígio do governo federal ao assumir a presidência da CPI da Petrobras e integrar o Conselho de Ética. (Colaborou Raymundo Costa, de Brasília)