Título: Brasil planeja mais investimentos na Bolívia
Autor: Leo , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 21/08/2009, Brasil, p. A7
Planos para investimentos bilionários de empresas brasileiras na Bolívia farão parte das conversas que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá, amanhã, com o presidente boliviano Evo Morales, na Bolívia. Executivos da Braskem discutiam ontem, em Santa Cruz, com o ministro de Hidrocarburos boliviano, Oscar Coca, e o presidente da estatal de petróleo YPFB, Carlos Villegas, condições para investir até US$ 2,5 bilhões em um polo petroquímico desejado pela empresa no país. A Vale iniciou sondagens para um investimento de U$ 1,5 bilhão na exploração e processamento de minerais.
As negociações, ainda em estágio preliminar, têm recebido apoio entusiasmado do governo brasileiro, que, estimulado pelo interesse privado em empreendimentos industriais na Bolívia, acredita ter superado a crise de confiança entre os dois países, nascida em 2006 com a nacionalização, pelo governo Morales, de maneira abrupta, de todo o setor de gás no país. Lula pedirá sinais do governo boliviano de que haverá condições estáveis para os investimentos por parte de empresas brasileiras. Poderá anunciar, também, a venda em condições especiais, de tratores brasileiros aos bolivianos.
Ontem, os dois governos ainda negociavam um memorando de entendimentos que abriria caminho para a participação da Vale na exploração e processamento de minerais na Bolívia. O entendimento tem como alvo as reservas de lítio no sítio turístico conhecido como Salar de Uyuny, o maior deserto de sal do mundo, a 4 mil metros de altitude, que é visto como a riqueza de maior potencial "estratégico" para o futuro do país.
O lítio é usado principalmente em baterias e apontado como fonte de energia revolucionária para carros elétricos. Os bolivianos acreditam que, ao contrário do que ocorreu com as riquezas de prata, estanho e gás, a exploração de lítio poderá ser acompanhada da criação de indústrias para agregar valor ao metal e gerar riqueza no país. Bolívia negocia acordos de cooperação com Japão, Coreia do Sul, França e outros países.
A Vale, ainda preliminarmente, iniciou sondagens para explorar outros minerais, entre eles o manganês, encontrado no lago formado pelas chuvas na região do salar. Por recomendação do governo brasileiro, avalia a possibilidade de agregar valor a esses metais, fazendo na Bolívia o processamento industrial por meio de um sistema conhecido como "verticalização da salmoura".
Os bolivianos têm sido muito zelosos dos projetos de exploração de lítico, e insistem em exigir dos interessados planos para instalação de indústrias ligadas à produção de baterias feitas com o metal. É uma exigência que pode dificultar os eventuais planos da Vale para o país. No caso da Braskem, os planos para o polo petroquímico antecedem a nacionalização do gás, de 2006, e haviam sido congelados com a deterioração das relações comerciais e políticas entre Brasília e La Paz.
A Braskem criou um polo na Venezuela, mas não abandonou a ideia de usar também o gás boliviano para produzir plásticos no país vizinho. A ideia, na avaliação do governo brasileiro, seria positiva para a Petrobras, que, desde 2007, por um acordo entre os dois países, está obrigada a pagar pelos gases de maior valor encontrados no produto boliviano exportado ao Brasil - os gases usados pela petroquímica. A Braskem separaria em território boliviano este gás, acabando com a obrigação da estatal com a "compra".
A obrigação de compra do gás tem provocado atritos entre a Petrobras e o governo boliviano, assunto que Morales já disse constar da agenda entre ele e Lula.
O encontro servirá também para inauguração de uma estrada financiada pelo Brasil, em Chaparre, reduto eleitoral de Morales, que designou o local. Nos últimos dias, o boliviano tem anunciado que pretende reclamar com Lula da redução do consumo de gás pela Petrobras. O Planalto tem enviado emissários para dizer a Morales que Lula não aceitará um tratamento agressivo em sua passagem pela Bolívia.