Título: Algodão adensado estimula retomada em MT
Autor: Zanatta , Mauro
Fonte: Valor Econômico, 25/08/2009, Agronegócios, p. B12
Os produtores de algodão de Mato Grosso, os maiores e até então os mais produtivos do país, decidiram apostar em um novo sistema de cultivo como alavanca para uma forte retomada da área plantada com a fibra no Estado.
O algodão adensado, cultivado de forma mais concentrada na mesma área, eleva em até 30% a produtividade, derruba o ciclo produtivo de 200 para 150 dias e reduz em até US$ 500 por hectare os custos de produção. O novo sistema, testado em 5 mil hectares de lavouras experimentais na última safra, exige menos investimentos em tecnologia e em máquinas especiais para a colheita.
Os produtores estimam recuperar até 70% da área plantada na nova safra, que começa a ser semeada em dezembro. Alguns já pensam em cultivar algodão nesse sistema na safra de inverno. "É possível recuperar até 120 mil dos 160 mil hectares que deixamos de plantar na safra passada", prevê o diretor-executivo da Associação Mato-Grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), Décio Tocantins. A redução do ciclo produtivo da fibra diminui a exposição das lavouras a pragas e doenças. Isso leva à redução nos custos de produção. "Os altos custos têm contribuído para o desestímulo dos produtores. Esse novo sistema é um incentivo para mudar o cenário de margens negativas na atividade".
O Estado, que atende a 60% das exportações nacionais da fibra, respondeu por 46% da área cultivada no país no ciclo 2008/09. Mas a crise financeira global derrubou a demanda por produtos têxteis e provocou uma forte redução das cotações no mercado externo.
Tecnologia bastante difundida nos EUA, o sistema de algodão adensado permitiu a redução de aplicações de agrotóxicos e de fertilizantes nas lavouras. Com o uso de variedades comuns resistentes a viroses, o sistema alterou a forma de colheita, induzindo ao uso de maquinários simplificados, adaptados de operações semelhantes feitas na Argentina e Paraguai. "Nosso objetivo é reduzir custos na produção e ficar em pé de igualdade de condições com o resto do mundo", diz o produtor Sergio De Marco, que plantou 920 hectares de algodão adensado em sua fazenda de Itiquira, no sul do Estado. A produtividade e a qualidade da fibra permaneceram inalteradas.
O Instituto Matogrossense do Algodão (ImaMT) tem investido nos experimentos com o sistema adensado e promete lançar variedades adaptadas para essa forma de plantio, em que o espaçamento entre as plantas é reduzido de 90 para 45 centímetros. "O nosso programa de melhoramento já tem uma linha para obtenção de variedades mais adaptadas a esse sistema e em breve lançaremos esses materiais", diz o diretor-executivo do ImaMT, Álvaro Salles.
A redução dos custos de produção aponta para um cenário menos complicado na próxima safra. Os preços, em lenta recuperação, prometem trazer um sopro de estímulo aos produtores de algodão. "Estamos correndo atrás de uma tecnologia para empatar o jogo dos custos. As pesquisas mostram que o adensado pode cobrir essa diferença", diz Décio Tocantins. As projeções de Darin Newson, da americana DTN, situam a cotação entre US$ 0,47 e US$ 0,51 por libra-peso ao longo de 2010. "Se a demanda nos países emergentes se recuperar, e se não houver uma produção mundial muito elevada, os produtores podem se salvar", avalia Newson.
O jornalista viajou a convite da Bienal da Agricultura