Título: Cresce importação no país de carros e peças
Autor: Olmos , Marli
Fonte: Valor Econômico, 21/08/2009, Empresas, p. B8

Das 15 empresas que mais importaram entre janeiro e julho, seis são fabricantes de veículos. O total de compras dessas empresas no exterior - carros mais componentes - totalizou US$ 4,175 bilhões, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Esse volume representa 7,5% das importações do brasileiras no período e também um aumento de 231% em relação ao volume das compras feitas também por montadoras no exterior nos sete primeiros meses de 2002, quando o câmbio não era tão favorável aos produtos importados.

A lista das montadoras que mais trouxeram produtos de outros países este ano não é a mesma de sete anos atrás. Em 2002, as veteranas Volkswagen, General Motors, Ford e Fiat, além do grupo francês PSA Peugeot Citroën estavam entre os 15 maiores importadores. Mas as três primeiras também se destacavam entre os 15 maiores exportadores. Agora, na lista dos 15 maiores importadores deste ano, além de Volks, Fiat e Ford estão também Honda, Toyota e Mercedes-Benz . No entanto, apenas duas - Volkswagen e Mercedes-Benz - estão entre os 15 primeiros colocados nas exportações.

Além do câmbio mais favorável (no primeiro semestre de 2002 o dólar valia R$ 2,844), o que estimula a importação de componentes, o volume de compras no exterior sobe à medida em que as montadoras têm trazido do exterior boa parte dos carros que estão sendo lançados. Principalmente os modelos mais luxuosos. A tendência de limitar ao Brasil criação e a produção de automóveis pequenos, mais simples, torna-se cada vez mais clara.

Pesa ainda a facilidade que os acordos de intercâmbio comercial livres de impostos trouxeram para essa indústria. Os quatro lançamentos feitos pela Ford este ano foram carros produzidos em outros países. Dois - Focus e ranger - são da Argentina e um - Fusion - é do México, dois países que exportam para o Brasil sem Imposto de Importação. O quarto lançamento da Ford foi o Edge, que vem do Canadá.

Há cinco anos os modelos importados representavam pouco mais de 4% do total de veículos licenciados no país. No mês passado a fatia dos modelos estrangeiros nos emplacamentos ultrapassou 15%. A tendência é que esse índice aumente nos próximos meses. Além das próprias montadoras - responsáveis por 91% das importações de veículos do país - as marcas que não têm fábricas no país têm sido agressivas. Somente em julho, o total de veículos dessas marcas licenciados foi 10,7% superior a junho.

Além dos veículos, as importações crescem por conta das autopeças, compradas diretamente pelas próprias montadoras e também pelas empresas que fabricam conjuntos de componentes no Brasil.

A indústria de autopeças brasileira fechará 2009 com o terceiro ano consecutivo de déficit na sua balança comercial. Até julho, balança do segmento estava negativa em US$ 1,24 bilhão. O presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes Automotivos (Sindipeças), Paulo Butori, calcula que até o fim do ano, o déficit chegará a US$ 3,5 bilhões, o que representará um acréscimo de US$ 1 bilhão no saldo negativo de 2008, que fechou com resultado negativo de US$ 2,5 bilhões. Em 2007, a indústria de autopeças do país fechou com superávit de US$ 1,98 bilhão.

Vale ainda destacar que o aumento do déficit na balança comercial de peças ocorre em um período em que as importações dos próprios fabricantes de componentes são menores. Ou seja, enquanto os volumes caíram 36,4%, de US$ 7,2 bilhões para US$ 4,6 bilhões no período, o déficit cresceu 2%. Isso leva a crer que as montadoras estão comprando mais peças no exterior.

Para Butori, o aumento das importações está postergando a decisão de investimentos. "A indústria está aguardando para analisar melhor a estratégia das montadoras, de incrementar ou não as importações de veículos no país", diz. "Como são carros semelhantes, os fabricantes autopeças de outros países acabam fornecendo para as montadoras descontos muito bons para elas trazerem a peça de lá", afirma, ao lembrar que o Leste europeu e outras regiões com ociosidade de produção elevada estão abastecendo o mercado nacional.

Entre os fatores que contribuem para isso, na opinião de Butori, estão o real valorizado e a carga tributária elevada.

A estratégia das multinacionais, segundo o dirigente, tem sido ampliar investimentos em países onde a alíquota de exportação de autopeças para o Brasil é zero. "O movimento de importação sempre existiu e continuará existindo. Agora, ampliar os investimentos em países como o México e Argentina é outra questão", destaca.