Título: Palocci espera PSDB para decidir futuro político
Autor: Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 31/08/2009, Política, p. A9

O ex-ministro da Fazenda e deputado Antonio Palocci (PT-SP) quer primeiro saber quem será o candidato do PSDB para decidir se disputa ou não o governo de São Paulo, em 2010. Esse é o destino mais provável do ex-ministro, depois de ser liberado no Supremo da acusação de ter mandado quebrar o sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa.

É remota a hipótese de Palocci voltar para o ministério, como pensava inicialmente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, porque o julgamento demorou além do esperado - ele teria de sair em abril para disputar o governo estadual ou um mandato legislativo. A menos que ele não seja candidato e vá coordenar a candidatura da ministra Dilma Rousseff a presidente.

A candidatura de Palocci ao governo de São Paulo é mais provável e sempre esteve nos cálculos de Lula, que pretende montar um palanque consistente para Dilma em São Paulo, onde os tucanos são mais fortes. Lula perdeu os dois turnos que disputou com os tucanos em São Paulo, na eleição presidencial de 2006 (para Geraldo Alckmin).

O pior cenário para Palocci, no PSDB, será a candidatura do ex-governador Geraldo Alckmin, na hipótese dada como certa entre os petistas de o atual governador José Serra ser o candidato a presidente do PSDB. Uma certeza, aliás, que já não é tão sólida entre os tucanos - eles consideram que o governador de Minas, Aécio Neves, está cada vez mais no páreo. Nesse caso, Serra seria candidato à reeleição.

O melhor cenário, na avaliação do PT, seria a candidatura do secretário de governo Aloysio Nunes Ferreira, o nome preferido de Serra, ou o do vice-governador Alberto Goldman, que também disputa a indicação. É isso o que Palocci pensa quando diz "é preciso primeiro ver o que vai decidir o lado de lá". Mas no PT ainda há dúvidas sobre a viabilidade da candidatura do ex-ministro, apesar do bom resultado no Supremo Tribunal Federal (STF).

A decisão, na realidade, não foi propriamente o esperado pelos petistas. Quatro ministros votaram pela abertura de processo contra Palocci - eles esperavam dois, talvez três votos contrários. O Supremo livrou Palocci por falta de indícios de que tenha ordenado a quebra do sigilo do caseiro Francenildo Costa, e não por descartar a prática do crime.

Além disso, pesquisas feitas em São Paulo indicam que o eleitor interpreta que Palocci foi o beneficiário da quebra do sigilo do caseiro: foi o grande que usou seus poderes para prejudicar o pequeno, o humilde. Os petistas vão esperar decantar a decisão do STF para verificar se esse entendimento muda. O que não deve mudar é a decisão de lançar Palocci, caso ele se decida por disputar, mesmo considerando a hipótese de perder para o PSDB.

Se for derrotado, mas garantir a Dilma forte palanque em território tucano, Palocci se credencia mais para ser o poderoso ministro de um eventual governo Dilma do que apenas como um coordenador de campanha. O ex-ministro também teria a oportunidade que mais deseja para tentar "limpar" seu nome, o que ocorrerá também se ele disputar a reeleição à Câmara.

Formalmente, o PT e o Planalto limitam o raio de ação de Palocci, no próximo ano, a uma candidatura ao governo do Estado ou a deputado federal. Há quem diga que ele pode até mesmo não se candidatar a nada. Mas a oposição ainda leva em conta a possibilidade de ele se tornar uma opção para a Presidência da República, no caso de a candidatura Dilma Rousseff se mostrar, por algum motivo, inviável.

Só uma razão muito forte, a esta altura, pode levar o PT à desistência da candidatura Dilma. Saúde, por exemplo: a ministra trata-se de um câncer linfático. Apesar de ter restringido suas aparições em público, nos últimos dias, a avaliação no PT é que ela se manteve estável nas pesquisas de opinião, sobretudo na região Nordeste. E que Serra tem uma leve perda de pontos.

Além do Palácio do Planalto, líderes do PT também descartam a hipótese de que Palocci volte ao ministério. Trata-se de uma especulação que aumentou com o fato de Lula não ter ainda tomado a iniciativa para preencher uma vaga de ministro que está aberta no Tribunal de Contas da União (TCU). Para o lugar deve ser indicado o atual ministro das Relações Institucionais, o deputado José Múcio Monteiro (PTB-PE).

Palocci poderia, assim, assumir a coordenação política do governo. Mas o PT conta com o cargo para o líder na Câmara, Cândido Vaccarezza, que tem inclusive o apoio do PMDB da Câmara. A Casa Civil esteve nas especulações do PT. Essa é uma possibilidade considerada real em alguns setores petistas, caso Palocci não seja candidato a nada.

O fato é que a decisão do Supremo demorou, a entrada da senadora Marina Silva (PV-AC) na corrida presidencial levou Ciro Gomes (PSB) a retomar sua candidatura presidencial (enfraquecendo a opção pela disputa do governo de São Paulo) e a iniciativa, agora, está nas mãos de Antonio Palocci.