Título: Bancos privados perdem espaço no financiamento imobiliário
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Fonte: Valor Econômico, 31/08/2009, Finanças, p. C1

Os bancos privados perderam espaço no cobiçado mercado de crédito imobiliário. Puxado pelo forte desempenho da Caixa Econômica Federal, o saldo da carteira das instituições públicas cresceu 24,2% no ano até julho, atingindo estoque de R$ 56,1 bilhões em operações para pessoas físicas. Enquanto isso, os privados nacionais registraram elevação de 12,5% no mesmo período, chegando a R$ 11,6 bilhões.

A crise foi determinante para esse movimento. Os públicos seguem diretriz do governo federal para fomentar a economia por meio da concessão de crédito e o setor imobiliário é estratégico para gerar crescimento. Em meados de agosto, a Caixa atingiu a marca de R$ 23 bilhões em concessão de novos negócios no ano, superando o total liberado em 2008. Com isso, sua participação de mercado pulou de 68%, no ano passado, para 72% agora em junho.

Além disso, o Banco do Brasil passou a operar com recursos da poupança, antes exclusividade da Caixa e dos estaduais, como Nossa Caixa e Banrisul. A carteira já é de R$ 350 milhões.

Já os estrangeiros, que antes da crise apresentavam as maiores taxas de expansão, ficaram no meio termo, com avanço de 18,4% nos empréstimos para a compra da casa própria entre janeiro e julho. Com isso, a carteira chegou a R$ 9,25 bilhões e se aproxima do estoque dos nacionais.

"Esse mercado é um dos principais pilares do banco no mundo. Continuamos a todo vapor na concessão à pessoa física. Estamos beirando os 50% de crescimento", disse Antonio Barbosa, diretor do HSBC. Segundo ele, o objetivo é fechar o ano com carteira superior a R$ 1 bilhão.

O apetite dos privados nacionais na habitação não diminuiu, mas o ritmo neste ano está mais fraco. O Bradesco, por exemplo, que havia originado R$ 6 bilhões em crédito imobiliário em 2008, espera conceder novos R$ 4,5 bilhões neste ano. O primeiro trimestre foi relativamente fraco, mas no segundo trimestre a produção dobrou. Segundo o presidente Luiz Carlos Trabuco Cappi, o crédito imobiliário tem muito espaço para crescer, pois representa apenas 2% do PIB.

A carteira de empréstimos imobiliários do Itaú Unibanco fechou o semestre em R$ 7,11 bilhões, incluindo operações com empresas. O diretor da instituição, Silvio de Carvalho, explicou o interesse do banco por esse negócio: o crédito imobiliário estabelece uma relação de fidelidade com o cliente por longo prazo e dá ao banco a oportunidade de oferecer outros produtos.

Um dos fatores que contribuíram para essa desaceleração dos privados foi o impacto da crise nas incorporadoras, que reduziram as concessões para a construção de novos empreendimentos. Isso porque a maior parte das liberações de Bradesco e Itaú Unibanco era direcionada às empresas do setor.

A maior parte das companhias recuou no ritmo de lançamentos e concentrou esforços na venda de unidades remanescentes. Isso fez com que o crédito à produção caísse 24% no ano, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).

O diretor executivo de Negócios Imobiliários do Grupo Santander Brasil, José Roberto Machado, afirma que o primeiro trimestre foi o mais difícil para produção, por conta da redução importante no volume de lançamentos por parte das empresas. O lado saudável, disse ele, é que as empresas venderam o estoque e estão mais confortáveis para lançar mais empreendimentos daqui para frente.

De fato, a expectativa é que o segundo semestre seja mais forte. De acordo com o presidente da Abecip, Luiz Antonio França, as incorporadoras já começaram a retomar os lançamentos e os empréstimos às empresas devem ter recuperação. Com isso, o patamar concedido para novos negócios somados ao volume de recursos para a compra da casa própria deve repetir o mesmo desempenho do ano passado, R$ 30 bilhões. Até junho, o volume liberado pelos bancos foi de R$ 13,6 bilhões.

Segundo o diretor do HSBC, o mercado começa a apresentar melhora e os meses de setembro e outubro são sazonalmente mais fortes. "As incorporadoras aproveitam a entrada do décimo-terceiro salário e o aumento da renda para fazer mais lançamentos", disse Barbosa.

Já a captação de recursos não apresenta problemas. Segundo o diretor do Santander, em nenhum momento da crise o funding foi um problema. "A poupança cresce em qualquer cenário de taxa de juros. Tem vida própria. Está menos ligada à rentabilidade e mais à segurança", disse Machado.

Mas com o cenário de juros baixo, a caderneta começa a ganhar mais atratividade e o fluxo de recursos já é superior à média - atingiu R$ 5 bilhões em julho, considerando a parcela destinada à habitação. "Além do apelo, agora tem a competitividade com outros investimentos. Mas há de se ter um certo cuidado, porque não necessariamente esses recursos que estão entrando com tanta abundância agora vão ficar por longo prazo. Muitos podem estar se aproveitando de um momento de mais rentabilidade", completou Machado. (Colaborou Maria Christina Carvalho)