Título: BC vai em busca de tecnologia para modernizar destruição de cédulas
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 31/08/2009, Finanças, p. C8

O Banco Central abriu uma licitação internacional para modernizar o processo de destruição do dinheiro deteriorado que é retirado de circulação da economia. Máquinas de última geração vão checar a autenticidade, triturar e compactar cerca de 1,5 bilhão de cédulas velhas por ano.

O resíduo, hoje depositado em aterros sanitários, será entregue a projetos de reciclagem para ser usado na produção de adubo, papel comum e tijolos.

"O numerário, no final do seu ciclo de vida, precisa ser destruído", afirma o chefe do departamento do Meio Circulante do BC, João Sidney de Figueiredo Filho. "O dinheiro é um dos cartões de visita do país, por isso precisa estar sempre em boas condições."

Destruir o numerário é, no sistema atual, uma tarefa intensiva de mão-de-obra. Todo o processo, que leva cerca de seis horas, precisa ser acompanhado por equipes formadas por sete funcionários do BC. Um vigia o outro, e todos são monitorados por câmeras de vídeo.

Depois de destruído, o dinheiro velho vai para o lixo porque é leve e volumoso, o que torna seu armazenamento e transporte para reciclagem economicamente inviáveis. O Banco Central espera, com novas máquinas, fazer o serviço com equipes de apenas dois funcionários.

O resíduo final será compactado, reduzindo os custos de reaproveitamento.

As nota de R$ 2 são as mais usadas pela população, o que, no jargão econômico, significa que têm maior velocidade de circulação. Por isso, duram apenas 12 meses. Uma cédula de R$ 100, mais difícil de passar de mão em mão e com circulação mais lenta, tem vida útil de 36 meses. Em média, cerca de 40% das 3,7 bilhões de cédulas em circulação são destruídas, produzindo uma montanha de 1,6 mil toneladas de resíduos.

É tarefa dos bancos tirar de circulação as cédulas danificadas que recebem dos clientes. Elas são entregues a um dos dez centros de destruição do Meio Circulante instaladas em todas as sedes do BC, que ficam em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. O BC está interessado principalmente em preservar o numerário contra falsificações, já que é mais difícil identificar as marcas de segurança no dinheiro deteriorado. Há uma carta-circular do BC que estabelece, em detalhes, que as notas que devem sair de circulação. Numerário sujo, por exemplo, dificulta a identificação das marcas d"água. Papel moeda desgastado impede a checagem das marcas em relevo.

Os bancos depositam as notas deterioradas nas suas contas de reservas bancárias mantidas no BC, o que, do ponto de vista econômico, significa que as cédulas deixam de existir como meio circulante. A fase seguinte é a destruição física. Um corpo de funcionários do BC, usando máscaras, checa uma a uma a autenticidade as notas de maior valor, como as de R$ 100. As de menor valor são conferidas por um processo de amostragem.

Todas notas têm números de série, uma espécie de certidão de nascimento, mas não há nenhuma checagem dos números na sua destruição, ou certidão de óbito. O número de série serve simplesmente para, por meio verificação aleatória, checar o tempo de circulação das notas.

Reunidas em pacotes de mil unidades, as cédulas são colocadas em esteiras e levadas às máquinas de destruição. O trabalho deve ser acompanhado de perto porque, no sistema atual, a operação da máquina pode ser interrompido. Ou seja, ao menor descuido, alguém pode interromper as máquinas e roubar o dinheiro. O resíduo, atualmente com tamanho entre 8 e 10 milímetros, é acondicionado em sacos e levado para aterros sanitários.

No novo sistema de destruição de notas, equipamentos vão checar automaticamente a autenticidade das cédulas, além de verificar porque as notas estão sendo destruídas. "Será possível saber se as notas estão muito sujas e se vale a pena o BC investir um pouco mais para envernizá-las", afirma Figueiredo Filho. "Se o problema for riscos ou rasgos, a solução poderá ser mais campanhas para educar a população." De forma geral, o brasileiro cuida bem do dinheiro. Mas a deterioração das cédulas é um pouco mais acelerado devido ao clima tropical.

O funcionamento da máquina, no novo sistema, não poderá ser interrompido antes de chegar ao final. Os fragmentos serão menores, com até 6 milímetros, o que permitirá a compactação.

O BC já recebeu três propostas para a reciclagem dos resíduos. Uma delas é a produção de adubo, depois de as notas serem misturadas com outros materiais orgânicos. As cédulas são feitas de fibras de algodão, e suas tintas são ricas em minerais.

Outra proposta recebida pelo BC foi para a produção de papel comum, depois que os resíduos das cédulas forem misturados com outras fibras. Figueiredo Filho diz que não há o risco de o papel reciclado ser usado na falsificação de dinheiro. "O processo para transformar o resíduo em papel é antieconômico."

Uma terceira proposta recebida pelo BC é para a produção de tijolos, a partir da mistura do resíduo das cédulas com minerais. A ideia é usar o material na construção de casas populares.

A licitação já está em fase adiantada. Foram credenciadas credenciadas três empresas: a holandesa Kusters Engineering, a alemã Giesecke & Devrient e a suíça Hunkeler Systeme. O próximo passo será a disputa por melhor preço. Durante a licitação, o BC não dá estimativa sobre os custos envolvidos no projeto.