Título: Produção cai 0,7% em abril
Autor: Pires, Luciano
Fonte: Correio Braziliense, 02/06/2010, Economia, p. 11

Sem IPI reduzido, setores que puxaram a recuperação até março perderam o fôlego. Para Iedi, recuo é sinal de investimentos

Alguns dos setores que pisaram fundo demais no acelerador no início do ano diminuíram o ritmo. Pela primeira vez em 2010, a produção industrial brasileira recuou, amargando em abril queda de 0,7% em relação a março. O resultado, apesar de ruim, não altera a trajetória de recuperação nas fábricas. Números divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que o ajuste é resultado da forte expansão pós-crise e, em termos estatísticos, ainda acabou prejudicado pela ampliação das bases de comparação.

A sequência de altas registrada pela indústria nos três primeiros meses ¿ janeiro (1,2%), fevereiro (1,5%) e março (2,8%) ¿ não se manteve devido ao péssimo desempenho de ramos importantes. No ranking negativo, os destaques são bebidas (-11%), celulose e papel (-6,1%), outros produtos químicos (-3,5%), máquinas para escritório e equipamentos de informática (-11,3%) e veículos automotores (-1,7%). Todos esses segmentos haviam registrado saltos positivos no mês anterior: 7,8%, 7,4%, 1,9%, 14,3% e 10,6%, respectivamente. Conforme o IBGE, 12 das 27 áreas pesquisadas encolheram entre março e abril, 14 aumentaram a produção e uma se manteve estável.

Entre as atividades industriais que avançaram, estão refino de petróleo e produção de álcool (12,8%), alimentos (1,5%), outros equipamentos de transporte (4,9%), indústrias extrativas (1,9%), material eletrônico e equipamentos de comunicações (4,1%) e metalurgia básica (1,7%). Para André Macedo, economista da coordenação de indústria do IBGE, entre ganhos e perdas, o cenário ainda é bastante favorável à indústria. ¿Era natural que ocorresse uma acomodação após um crescimento importante. Essa queda não altera a trajetória ascendente do setor industrial¿, justifica.

Nenhum dado, no entanto, é tão positivo quanto o que se refere à performance das empresas voltadas à produção de bens de capital: em abril houve alta de 2,4% com relação a março e de 36,3% no confronto com abril do ano passado. No acumulado de 2010, o segmento está no azul, em 28,7%. Equipamentos de transporte, construção civil e o investimento feito pela própria indústria em suas linhas de produção puxaram esse fenômeno.

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) comemorou o resultado de abril divulgado pelo IBGE e em especial o desempenho em bens de capital. Em nota, a entidade destacou que isso ¿revela que os investimentos na economia continuam firmes, abrindo caminho para a geração futura de nova capacidade de produção e consequente remoção dos perigos inflacionários da retomada do crescimento econômico¿. De acordo com análise do Iedi, o cenário para a produção industrial continua positivo e não vê motivos para temer o ¿sobreaquecimento¿.

Retrovisor Na comparação com abril de 2009, a indústria brasileira ampliou a produção em 17,4% ¿ quinta taxa positiva consecutiva de dois dígitos, segundo o IBGE. O índice confirma que a crise ficou mesmo para trás e a indústria brasileira, último segmento da economia a levantar-se, aproveitou abril para consolidar a retomada anunciada pelos analistas. Nas projeções de bancos e entidades que representam as fábricas, maio e junho deverão confirmar um primeiro semestre de números recordes.

1 - Duráveis Para o Iedi, o resultado do setor de duráveis, cuja produção cresceu 0,5% entre março e abril, deve ser analisado com atenção especial. Por trás desse resultado, justifica a entidade, há a queda de 1,7% da produção de veículos automotores, ¿a qual, pode-se deduzir, foi mais que compensada pelo aumento da produção de bens da linha branca (refrigeradores, fogões, micro-ondas, freezers) e da linha marrom (televisores, rádios, CD e DVD players etc.). Segundo o Iedi, o fim do IPI afetou a produção de automóveis em abril, mas o crédito e a Copa do Mundo têm favorecido o desempenho de outros segmentos duráveis.

Freio nas vendas

As vendas de veículos, comerciais leves, caminhões e ônibus novos no Brasil recuaram quase 10% em maio na comparação com abril, para 251 mil unidades. Balanço divulgado ontem pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), associação que representa as concessionárias no país, revela ainda que em relação a maio do ano passado, as vendas cresceram 1,64% e no acumulado de 2010, as vendas até maio totalizaram 1,3 milhão de unidades ¿ alta de 14,6% no confronto com os cinco primeiros meses de 2009.

Incluindo motos, implementos rodoviários e outros, as vendas em maio recuaram 5,7% sobre abril e subiram 4,4% ante o mesmo mês do ano passado, para 405,8 mil unidades. ¿Os números não mostram tendência de queda nas vendas de veículos. O setor já esperava uma estabilização do mercado, pois o ritmo estava acelerado motivado pela redução da alíquota do IPI e também pelas promoções¿, justificou em nota o presidente da Fenabrave, Sérgio Reze.

Até o fim de março ¿ recorde histórico de vendas de veículos novos ¿, o licenciamento vinha registrando números crescentes, impulsionados por incentivos concedidos pelo governo federal. Com o fim da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), o setor já esperava uma retração em abril e também em maio, após o forte movimento de antecipação de compras gerado pelo corte no tributo.