Título: Brasil vai propor um aumento para 47% dos votos de emergentes no FMI
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 09/09/2009, Finanças, p. B12

O governo brasileiro vai propor o aumento da influência dos Bric (Rússia, Índia, China e Brasil) nas decisões do Fundo Monetário Internacional (FMI). O ministro da Fazenda, Guido Mantega, levará ao encontro do G-20 em Pittsburgh (EUA), no final deste mês, a sugestão de elevação para 47% do percentual de votos que os países emergentes têm nas decisões tomadas pelo Fundo.

Hoje os países desenvolvidos têm 60% dos votos no FMI e os emergentes, 40%. "Sabemos que, com estes 7%, ainda não empataremos em peso político. Mas sempre há um ou outro país desenvolvido que acaba votando conosco", disse Mantega, após reunião da coordenação política.

Ele acrescentou, sem citar nomes, que vários países europeus têm um peso histórico no FMI, embora não tenham mais tanto peso econômico. Mantega participou na semana passada de uma reunião com os ministros da Fazenda dos Bric, que contou ainda com a presença do secretário de Tesouro Americano, Timothy Geithner. Na mesma reunião, ficou acertado como os emergentes vão contribuir para a capitalização do FMI. O Fundo vai emitir títulos de capitalização que serão comprados pelos emergentes na seguinte proporção: US$ 50 bilhões pelos chineses; US$ 10 bilhões pelos brasileiros; US$ 10 bilhões pelos indianos e US$ 10 bilhões pelos russos. "Nossa parte não sairá de nossa economia interna. Fazem parte dos US$ 215 bilhões de nossas reservas internacionais", declarou o ministro.

Mantega aproveitou a coordenação política de ontem para expor aos demais ministros e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva qual será a linha apresentada pelo Brasil na próxima reunião do G-20. Além das reformas no Fundo Monetário Internacional, o governo brasileiro vai defender a manutenção das políticas de incentivo à economia adotadas por todos os chefes de governo durante a crise internacional.

Segundo Mantega, apesar dos bons resultados que voltam a aparecer, ainda é cedo para afirmar que a crise acabou. "É prematuro diminuir as desonerações, os mecanismos de incentivo, os gastos públicos e o controle nas taxas de juros", defendeu o ministro da Fazenda. De acordo com o ministro, a defesa de uma mudança no comportamento dos governos foi feita, especialmente, pela Alemanha.

O ministro declarou também que, evidentemente, algumas mudanças podem ser feitas, de acordo com a necessidade e a realidade de cada país. Ele citou, por exemplo, que a proporção de desonerações feitos pelo governo chinês chegou a 13% do PIB, enquanto no caso brasileiro este percentual não chegou a 1% do PIB. Ele também assegurou que o ritmo para o término das desonerações brasileira está mantido. "Nós tivemos um resultado positivo (2,2%) no crescimento do PIB Industrial, em comparação com o trimestre anterior. Em alguns casos, como produtos de linha branca, há produtos em falta no mercado, o que sinaliza um aumento na produção industrial", destacou o ministro.

Mantega disse que é fundamental também reforçar os mecanismos de regulação internacional. Assegurou que todos os integrantes do G-20 - incluindo os Estados Unidos - concordam com esta necessidade. Mas alertou que o mercado financeiro da Grã-Bretanha e de Wall Street, especialmente, defendem uma maior flexibilização. "Não podemos permitir uma retomada da especulação financeira", acrescentou o ministro.

O ministro lembra que, neste momento em que a crise internacional começa a dar sinais de arrefecimento, muitos bancos querem menos rigor nas regras de empréstimos. Desejam retomar a situação anterior, na qual eram realizados empréstimos sem controle ou garantias de pagamento. "Muitos gerentes de bancos recebiam bônus sobre o volume de empréstimos concedido. Queremos que haja garantias para um controle dos empréstimos concedidos à determinadas atividades que envolvem operações de risco", destacou ele.