Título: Agência reconhece que seu banco de dados continha erros
Autor: Schüffner , Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2009, Brasil, p. A6

No dia 28 de julho passado, o Valor publicou uma reportagem informando que no Banco de Dados de Exploração e Produção (BDEP), administrado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), estavam listados 28 poços perfurados no pré-sal brasileiro e nove deles estavam registrados com "resultados pouco animadores: secos ou classificados como produtores subcomerciais de petróleo ou gás". Diretora da ANP responsável pela área de Dados Técnicos e Definição de Blocos, Magda Chambriard diz que o BDEP, subordinado a sua diretoria, não pode atribuir resultados a áreas em perfuração antes que o próprio concessionário o faça. "O BDEP estava errado e eu agradeço. Quanto mais você usar [o BDEP] e mais vir que tem coisa errada, mais você me avisa e mais o banco de dados vai ficar confiável", afirmou Magda, ao Valor.

Passados mais de 40 dias, esta foi a primeira vez em que a ANP comentou a reportagem do Valor. No dia seguinte à reportagem, a agência corrigiu uma das informações do seu banco de dados e disse que um dos poços classificados como seco na verdade continha hidrocarbonetos. Questionada pela reportagem se as informações registradas no BDEP relativas aos outros oito poços estavam erradas ou corretas, a ANP não se pronunciou até esta entrevista da sua diretora.

Magda observa que o pré-sal da bacia de Santos não tem ainda nenhum campo de petróleo e por isso não há como fazer avaliações. Nem Tupi é um campo, pois ainda não teve sua comercialidade declarada, o que só deve acontecer em dezembro de 2010, quando vence o prazo exploratório previsto no contrato de concessão. Como as áreas ainda estão em avaliação, segundo Magda, o BDEP não pode dizer que uma delas é ou não comercial antes que o próprio concessionário o faça. As avaliações seguem a portaria nº 76 da ANP, que regulamenta os procedimentos para reclassificação de poços perfurados pelos concessionários.

"Quando o nosso banco de dados diz que o poço é portador de óleo, pela nossa portaria (nº 76) ele está dizendo que é um portador subcomercial de óleo. E se é subcomercial, quer dizer que não é comercial. Mas nós só podemos saber isso se o concessionário disser. A declaração de comercialidade é unilateral, é uma prerrogativa do concessionário", afirma Magda.

Segundo a ANP, apenas cinco poços de uma lista de 45 perfurados no pré-sal de Campos, Santos e Espírito Santo desde 2004 não tiveram declaração de descoberta, 39 tiveram essa declaração, e outros seis ainda estão em perfuração, sendo que apenas um é operado por uma estrangeira (a Maersk) e os demais são da Petrobras. Dos cinco sem notificação de descoberta, um é da Esso (Guarani), outro da BG (Corcovado 2) e três da Petrobras na bacia de Campos.

A Petrobras é operadora da esmagadora maioria desses poços, As exceções são a Esso, BG, Anadarko - que concluiu a perfuração no bloco C-M-101 na bacia de Campos onde descobriu o poço Wahoo - e a Maersk. Dos seis poços em fase de perfuração no pré-sal, cinco são da Petrobras. Ela busca jazidas mais profundas em Moréia, Enxova Oeste e Barracuda, todas áreas já em produção na bacia de Campos, enquanto perfura um poço pioneiro no BM-S-17 e outro de extensão no BM-S-11 (Tupi). A Maersk está perfurando um poço pioneiro no BM-S-29 na bacia de Santos.

Magda explica que na bacia de Campos na área com muralhas de sal com potencial semelhante ao de Santos o petróleo está muito fundo, numa lâmina d"água acima do atual limite comercial para produção. O recorde atual de produção em águas profundas é da Shell no campo Perdido, no Golfo do México, que produz a uma profundidade de 2.380 metros de lâmina d"água. "Esse é o limite comercial de produção, é um limite tecnológico. Na exploração dá para furar até mais de 2.800 metros, mas a parte da bacia de Campos com situação similar a Santos está mais fundo que isso", diz ela. (CS)