Título: ANP vai furar dois poços em área da União ainda este ano
Autor: Schüffner , Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2009, Brasil, p. A6

A Agência Nacional do Petróleo (ANP) vai usar R$ 600 milhões de seu orçamento para furar pelo menos dois poços em áreas não concedidas do pré-sal, que são da União. O tema foi antecipado pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, em entrevista ao Valor no mês passado. Dependendo do resultado, outros dois serão perfurados pela Petrobras, como prestadora de serviços, para a agência reguladora. O dinheiro virá do orçamento para pesquisa e desenvolvimento da própria ANP. A diretora Magda Chambriard explicou que os técnicos ainda vão decidir o local do primeiro poço, mas quer começar a perfuração ainda este ano. As áreas mais prováveis são a sudoeste ou nordeste de Tupi e a área adjacente a Caramba (BM-S- 21).

Na primeira entrevista desde a publicação, pelo Valor, de uma estatística mostrando que 9 em 28 poços do pré-sal tinham resultados ruins, Magda disse que o Banco de Dados de Exploração e Produção (BDEP) da ANP, que está sob sua responsabilidade, errou ao atribuir resultados a áreas que ainda estão em período exploratório, com base na portaria 76 da ANP (veja mais em texto anexo).

De acordo com o levantamento mais atualizado da ANP, já foram perfurados 45 poços no pré-sal brasileiro desde 2004. Destes, cinco foram declarados secos pelas próprias operadoras. A lista de cinco poços inclui os dois anúncios recentes de perfuração frustradas da Esso (ExxonMobil) e da BG e três poços da Petrobras perfurados na área dos campos Marlim Leste (dois poços) e PapaTerra, todos no pré-sal da bacia de Campos.

Magda explica que a área do pré-sal de Santos é muito grande e existem poucos poços perfurados ali. Comparando-se com as informações disponíveis hoje sobre a bacia do Recôncavo, que tem 10 mil quilômetros quadrados de extensão e aproximadamente 96 campos em produção, a bacia de Santos ainda é muito pouco explorada. Somente a área do platô de São Paulo, onde fica o chamado cluster de Tupi, tem quase duas vezes o tamanho do Recôncavo baiano. A diretora diz que a única maneira de mudar isso é furar mais, e a função da ANP é justamente adquirir conhecimento geológico e geofísico. Tanto que, se pudesse, a agência faria 15 poços no pré-sal de Santos, mas eles são muito caros para o orçamento, explica.

"Quanto mais conhecimento tivermos, mais valor vamos dar à área da União. Aqui o objetivo não é comercial e sim a valorização de ativos para a sociedade brasileira. Na Petrobras, o objetivo é valorizar ativos para os acionistas. Por acaso, a sociedade brasileira tem uma parcela da companhia", pondera. Na perfuração desses poços, a estatal vai apresentar preços que serão auditados. "A Petrobras terá que provar, com contrato, que o valor cobrado é o que ela efetivamente paga nos contratos dela", explica.

Ao descrever a visão da ANP sobre o pré-sal, Magda, engenheira civil com pós-graduação em engenharia química e especializações em engenharia de reservatórios, disse que, sob o ponto de visto geológico, ele é, sim, um sucesso exploratório. Segundo ela, os resultados mais importantes são os dos poços pioneiros (os primeiros numa área), já que os demais têm o objetivo de delimitar o tamanho do reservatório.

Magda menciona o exemplo da bacia de Campos, onde dez campos são responsáveis por 74% da atual produção do Brasil. Ali, diz, o resultado entre poços pioneiros perfurados dividido pelo número de descobertas comerciais foi de cinco erros para cada acerto. E na bacia de Santos, diz, todos os poços pioneiros tiveram 100% de acerto. Isso explica, ainda segundo ela, os resultados ruins da Esso e da BG no segundo poço perfurado por cada uma, sempre nos poços de extensão ou adjacentes. No caso da BG, a nomenclatura do poço indica que a companhia foi buscar a mesma estrutura depois de uma falha ou algo similar. No caso do poço Guarani, da Esso (um dos informados como seco), a diretora da ANP explica que esse segundo poço foi perfurado para delimitar a extensão do reservatório encontrado na primeira descoberta (Azulão).

"Em geologia, por mais conhecida que seja a área, não existe risco zero. O que existe é uma força de expressão, uma área onde o risco exploratório é substancialmente menor que de outras. Quando falamos que o risco é zero estamos dizendo que a chance de sucesso aqui é substancialmente maior. Se você achou 32% (de insucesso no pré-sal), significa 68% de sucesso. E isso é risco zero", disse Magda.

A diretora da ANP explica que os dados sugerem diferenças entre as bacias de Campos e Santos. Na primeira, diz, a interpretação da agência sobre os resultados das perfurações em áreas onde a Petrobras já produz é que o petróleo gerado no pré-sal encontrou "saídas", seja por uma falha geológica, seja porque o sal não é contínuo na área ou porque tem só um domo. Com isso, ele migrou para cima, para o pós-sal. Já na bacia de Santos, ou pelo menos no chamado "cluster de Tupi" e platô São Paulo, todo o petróleo ficou retido embaixo de montanhas de sal de até dois quilômetros. E ainda está lá.