Título: PMDB chega rachado à convenção
Autor: Sassine, Vinicius
Fonte: Correio Braziliense, 11/06/2010, Política, p. 3

Reunião pensada para referendar Temer como vice de Dilma terá boicote de governador e prefeito do Rio e ameaça de candidatura própria de Requião

Com um pré-candidato à Presidência ignorado e um polêmico projeto aprovado na madrugada pelo Senado, o PMDB chega à convenção do partido, amanhã, em Brasília, sem a unidade desejada para aprovar o nome do deputado Michel Temer como vice na chapa da ex-ministra Dilma Rousseff, do PT. O ex-governador do Paraná Roberto Requião registrou a pré-candidatura à Presidência e, caso a Executiva Nacional do PMDB não aceite levar a candidatura à convenção, ele ameaça contestar na Justiça a reunião do partido.

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e o prefeito da capital do estado, Eduardo Paes, também se rebelaram. Por conta da aprovação da emenda de Pedro Simon (PMDB-RS) que redistribui os royalties do petróleo a todos os estados e municípios e extingue o privilégio dos estados produtores ¿ como Rio e Espírito Santo ¿, as lideranças fluminenses dizem que não comparecerão ao congresso do partido.

O edital que convoca os filiados traz uma única pauta: aprovar o nome de Michel Temer, presidente da sigla e da Câmara, para vice na composição com Dilma na sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A convocação foi publicada no último dia 2. Na quarta, 9, Requião registrou a pré-candidatura à Presidência no diretório nacional do partido, dentro do prazo regulamentar de 48 horas antecedentes à convenção.

Antes disso, Requião afirma ter tentado por três vezes deixar clara ao partido sua intenção de disputar a Presidência, por meio de procuração encaminhada ao senador Pedro Simon. Os dois peemedebistas tentaram, sem êxito, encontro com Temer na Câmara. ¿O Michel é meu amigo pessoal e não tenho conflitos com ele nem com sua candidatura a vice. O problema é que Michel quer menos do que eu quero¿, ironizou Requião.

Ao lado do senador Pedro Simon, do presidente de honra do PMDB, Paes de Andrade, e dos deputados gaúchos Darcísio Perondi e Osmar Terra, Requião cobrou a inclusão da opção pela candidatura própria à Presidência na cédula da convenção. Ele diz ter o respaldo dos diretórios do Paraná, de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul e de São Paulo. Amanhã, garante, estará na convenção. ¿A não ser que me neguem, além da inscrição (como pré-candidato à Presidência), o direito à palavra.¿ Seguindo o usual estilo polêmico, Requião ameaçou entrar com ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e até sair do partido caso a inscrição seja ignorada. ¿Não somos um partido de banqueiros nem acredito que a ex-ministra (Dilma) seja capaz de ser presidente.¿

Royalties A ameaça do governador Sérgio Cabral e do prefeito Eduardo Paes também preocupa a direção do PMDB, principalmente em razão da proximidade dos dois ao presidente Lula. Por 41 votos a 28, o Senado aprovou na madrugada de ontem a divisão dos royalties do petróleo de forma igualitária entre estados e municípios, o que representaria perdas para o Rio de Janeiro e para o Espírito Santo, estados produtores de petróleo.

Senadores do Rio falam em perdas anuais de R$ 10 bilhões. Para o Espírito Santo, o prejuízo seria de R$ 3 bilhões anuais, segundo o senador capixaba Renato Casagrande. Conforme a emenda de Simon, caberia à União, com a própria parte recebida dos royalties, compensar as perdas. ¿Foi uma decepção ter companheiros do PMDB nessa covardia, nesse achaque¿, disse Sérgio Cabral. ¿Não irei à convenção porque não me sentirei à vontade.¿