Título: China alia crescimento e emissões melhor que o Brasil
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2009, Internacional, p. A11

O Brasil está atrás da China na transição para a economia crescer simultaneamente à redução das emissões de efeito-estufa, de acordo com um relatório publicado ontem em Londres. O ritmo de adaptação da indústria a futura economia verde é mais acelerada no México e na Argentina.

O Brasil tem uma posição intermediária no "Índice de Competitividade de Carbono", na comparação com os outros membros do G-20, grupo que representa 75% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e 70% das emissões de gases. O índice é elaborado pela E3G, um centro de estudos britânico dedicado a temas climáticos.

De acordo com o estudo, o desempenho do Brasil é negativamente afetado pelo que considera baixo investimento em tecnologia mais limpa, inovadora e mais eficiente, além de problemas como o desmatamento. Isso é parcialmente compensado pela menor intensidade de carbono na produção elétrica.

Quanto à China, o relatório estima que projetos de reflorestamento, de redução de emissões no setor de transporte, de maior eficiência energética e investimentos em energia renovável colocam o país na trajetória de emissões abaixo do "business as usual", do padrão.

Pequim poderá reduzir a intensidade de emissões em relação ao crescimento econômico em 40% na próxima década, ou seja, poderá ser capaz de baixar o crescimento de suas emissões entre agora e 2020 para um nível necessário para manter a temperatura global não mais de 2o C acima dos níveis pré-industriais.

A E3G mede a riqueza nacional por unidade de emissão de carbono para constatar quais países podem ser mais competitivos sob os limites de emissões no futuro. Para isso, utiliza três índices.

No primeiro, que mede a atual capacidade dos países de gerar prosperidade numa economia menos carbonizada, o Brasil fica em nona posição, atrás da Coreia do Sul e da China. França, Japão, Grã-Bretanha, África do Sul e Alemanha são os mais bem colocados, refletindo seu alto nível de renda e os ajustes já feitos para suas economias poluírem menos.

O segundo índice aponta o Brasil e a Arábia Saudita como os paises que mais aumentaram a intensidade de carbono em suas economias durante o crescimento no período 1990-2005. Os que mais melhoraram a "produtividade de carbono" teriam sido Alemanha, África do Sul, México, Grã-Bretanha e França.

Potencialmente mais importante do que a posição atual é como os paises estão melhorando sua "competitividade de carbono". Nesse cenário, o Brasil fica em sétima posição. Somente o México e a Argentina teriam melhorado sua produção por unidade de carbono em linha com as trajetórias de redução de emissões que evitaria mudança climática. China, África do Sul e Alemanha estariam perto de alcançar o objetivo.

Para a E3G, os argumentos de que ações para combater a mudança climática afetam a concorrência internacional são "atrasados e superados". E diz que a economia mundial já está se movendo para a produção com menos emissões. Somente em 2008, US$ 155 bilhões foram investidos em energia limpa, superando pela primeira vez os montantes aplicados em tecnologias de energia fóssil.

O relatório tem o apoio do economista britânico Nicholas Stern, que em 2006 publicou o primeiro grande estudo sobre o impacto econômico de eventual um fiasco no combate às mudanças climáticas. "Países que não aproveitarem essa oportunidade vão minar sua futura competitividade e prosperidade", diz ele.

Os líderes do G-20 se reúnem na semana que vem em Pittsburg (EUA), para reafirmar os planos para tirar a economia mundial da recessão e também para discutir financiamento para combater mudança climática.