Título: Preço de painéis cai e afeta empresas
Autor: McNulty , Sheila
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2009, Especial, p. A14

A decisão da Q-Cells, maior fabricante mundial de células solares, de zerar sua previsão de faturamento para o ano inteiro foi mais uma das nuvens que prenunciam tempestades no setor fotovoltaico alemão.

A queda mundial no preço de componentes solares (em parte em razão do excedente de oferta), deixou os fabricantes alemães em dificuldades para competir com produtores asiáticos barateiros.

Anton Milner, executivo-chefe da Q-Cells, advertiu que "a queda nos preços se acentuou no segundo trimestre", reduzindo as margens, em meio à contenção de financiamentos a grandes projetos envolvendo energia solar.

A Q-Cells é uma de diversas companhias solares alemãs obrigadas a reduzir horas de trabalho como reação a quedas na demanda que deixaram muitas companhias com excesso de estoques. A decisão de zerar a previsão foi anunciada no mês passado.

Mas, como outras que atuam no mesmo setor, a companhia diz que perspectivas de longo prazo são boas porque novos mercados internacionais estão se abrindo e as vantagens financeiras para os consumidores que instalam painéis solares no topo de edifícios talvez nunca tenham sido tão boas. A questão é os cortes governamentais nas "tarifas de alimentação" - os preços pagos pelas companhias de eletricidade, obrigadas a comprar energia elétrica gerada de fonte solar ou eólica a um preço fixo durante 20 anos - não seguiram o ritmo da queda nos preços de equipamentos solares.

A Alemanha deverá instalar este ano cerca de 2.000MW de sistemas solares - aumento de 500MW em relação a 2008 e equivalente a aproximadamente 43% do mercado mundial, segundo a European Photovoltaic Industry Association.

"É muito simples: a remuneração da alimentação caiu 10%, mas os módulos ficaram 30% mais baratos. Alguém tem de ficar com essa margem", diz Karsten von Blumenthal, da SES Research.

Poucos fabricantes alemães de equipamentos para conversão de energia solar estão comemorando, inclusive porque se demostrarem alegria excessiva o governo poderá decidir reduzir os subsídios solares, que os consumidores são obrigados a pagar mediante valores mais altos em suas contas de eletricidade. Além disso, muitos consumidores podem optar pela instalação de módulos solares baratos produzidos na Ásia, em vez de produtos alemães.

Analistas dizem que no atual mercado é melhor ser uma companhia solar diversificada do que dedicar-se exclusivamente à fabricação de componentes solares, porque estas são mais vulneráveis a quedas de preços.

A Solarworld, de Bonn, está enfrentando a situação em melhores condições do que algumas de suas concorrentes, porque está envolvida em todos os estágios da cadeia de suprimento solar e também empenhou-se para desenvolver sua marca, o que contribuiu para ela sustentar suas margens.

A companhia aumentou vendas e lucros no primeiro trimestre, depois que uma campanha publicitária sustentou que a crise econômica é o momento perfeito para aproveitar os retornos garantidos proporcionados por um painel solar, que apelidou de "poupança no telhado".