Título: Petrobras reduz seu apetite no exterior
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 18/09/2009, Empresas, p. B1

A fase de internacionalização da Petrobras deverá entrar em compasso de espera. De olho no grande potencial do pré-sal, a companhia vai dar prioridade para suas atividades no Brasil e manter seus investimentos internacionais exatamente no mesmo nível previsto, de US$ 16 bilhões para os próximos cinco anos, disse ontem, em Paris, o presidente da empresa, Sérgio Gabrielli.

"Não queremos aumentar esse orçamento nem reduzi-lo. Estamos congelando nossas operações internacionais porque as oportunidades que temos no Brasil são muito grandes", disse Gabrielli em um encontro com jornalistas na capital francesa.

Após Nova York e Boston, o presidente da Petrobras esteve em Paris para apresentar, em reuniões com empresários, analistas financeiros e investidores, os planos de investimentos 2009-2013 da companhia e o marco regulatório da área do pré-sal.

A imprensa internacional mostrou interesse por questões variadas, desde o funcionamento da nova estatal Petro-sal, ao índice de nacionalização dos futuros contratos que serão firmados por empresas estrangeiras e avanços nas negociações com fornecedores.

Durante todo o dia, Gabrielli explicou em Paris os planos do pré-sal e respondeu a questões de plateias diferentes. O discurso foi o mesmo, mas interpretado de formas distintas. Os empresários franceses dos setores de equipamentos e tecnologias para a indústria de petróleo e gás ficaram entusiasmados, em alguns casos até eufóricos, com a apresentação de Gabrielli, ontem pela manhã, na sede da Ubifrance, a agência francesa para os investimentos internacionais.

"Não há nenhuma reticência por parte dos empresários franceses. Sabemos que a Petrobras não apresenta nenhum risco fundamental. As companhias francesas querem ser escolhidas na competição", disse Philippe Lecourtier, presidente do conselho de administração da Câmara de Comércio do Brasil na França, que é presidida pelo principal executivo mundial da Renault, o brasileiro Carlos Ghosn.

"O dinamismo do Brasil para explorar seus recursos petrolíferos, nesse período de crise, é extremamente encorajador para as exportações francesas", afirmou Gérard Momplot, presidente do Gep, que reúne um grupo de empresas especializadas em estudos e construções necessárias para a exploração de jazidas.

Mas algumas horas depois, no prédio da Bolsa de Valores de Paris, analistas financeiros e investidores se mostraram mais prudentes, afirmando que vários fatores, como os valores das novas reservas de 5 bilhões de barris e os custos de exploração, além do calendário dos investimentos e da aprovação dos projetos de lei, ainda precisam ser mais bem definidos.

"As necessidades de investimento da Petrobras, de 30% do total em cada projeto, são muito grandes. Não sabemos quais são os custos de perfuração. Uma companhia estrangeira investirá 70% do capital necessário em função de custos que serão avaliados por um órgão independente, sem saber como eles vão evoluir durante os anos. O risco me parece muito grande", disse o brasileiro Isaac Chebar, da DNCA Finances, em Paris.

"O que esses cinco bilhões de barris, que serão cedidos a Petrobras na operação de capitalização, representam como capital? Quanto isso vai render? Há várias interrogações sobre essa reserva e não sabemos também qual é a qualidade do petróleo", afirmou Patrice Lemonnier, gerente de mercados emergentes do banco francês Crédit Agricole.

O presidente da Petrobras afirmou em Paris que o comportamento das ações da empresa, após o anúncio do marco regulatório, que subiram mais do que o índice das empresas petrolíferas, demonstram a confiança dos mercados em relação à exploração da camada do pré-sal.

Mas disse que "ninguém está 100% satisfeito" e reconheceu que existem dúvidas "para entender as mudanças nas futuras regras". Após a maratona de encontros em Paris, Gabrielli viajou para Londres, onde apresenta hoje, novamente, o novo modelo regulatório do pré-sal para investidores e imprensa.