Título: Bernanke já vê fim da recessão, mas alerta para retomada lenta
Autor: Guha , Krishna
Fonte: Valor Econômico, 16/09/2009, Internacional, p. A8

A recessão nos EUA "muito provavelmente terminou", disse ontem Ben Bernanke, presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA). Dados mostraram que as vendas no varejo no país cresceram no mês passado à taxa mais rápida em mais de três anos.

As vendas cresceram 2,7%, e o esperado impulso do popular programa federal de subsídio para a troca de carros velho por novos foi acompanhado por uma retomada surpreendente em outros gastos.

Isso ampliou as esperanças de que os consumidores americanos podem estar saindo dos destroços do colapso do mercado habitacional, da montanha russa das bolsas e de desemprego crescente.

"Esse é um consumidor que assumiu um comportamento duradouro de plena recuperação", afirmou Chris Rupkey, do Bank of Tokyo/Mitsubishi UFJ. "O Fed vai ter de parar de falar sobre sua estratégia de saída [das políticas de estímulo à economia] e começar a colocá-la em prática, se esses dados se mantiverem."

Outros observadores mostraram-se mais cautelosos, enfatizando que agosto é o mês de volta à escola. "Eu gostaria de ver se esse é um repique de um só mês, ou uma tendência efetiva", disse Adam York, da Wells Fargo.

Muitos economistas acreditam que os gastos do consumidor ficarão contidos durante meses, devido ao acesso limitado das famílias a crédito e ao desejo de reduzir suas dívidas.

Entretanto, após um longo período de gastos quase estagnados, pode haver demanda reprimida por alguns artigos.

Bernanke, que não comentou diretamente o relatório das varejistas, manteve-se cauteloso sobre o formato da recuperação.

Ele disse esperar uma recuperação "moderada" em 2010, com crescimento "não muito mais rápido do que o crescimento potencial básico da economia" - o que significa cerca de 3%.

As vendas de automóveis e de autopeças deram um salto de 10,6% em agosto, graças ao já encerrado programa "dinheiro em troca de seu carro velho", ao passo que o faturamento de postos de gasolina também deu um salto, de 5,1%, porque o preço do petróleo subiu durante o mês.

Porém, mesmo excluindo todas as compras relacionadas com automóveis e gasolina, as vendas varejistas registraram alta de saudável 0,6%, devido ao crescimento dos gastos com roupas, artigos esportivos, livros, eletrônicos e produtos alimentícios.

Por outro lado, os preços no atacado registraram alta de 1,7% em agosto, após caírem 0,9% em julho. Essa alta foi maior do que a esperada por analistas, em vista de muita capacidade ociosa na economia, e foi puxada por um aumento de 8% nos preços de energia e de 23% no custo do petróleo. "Estamos preocupados com as perspectivas inflacionárias para mais adiante, em 2010, e esse relatório sugere que as pressões inflacionárias podem estar começando a se manifestar no setor industrial", disse a RDQ Economics.