Título: Greves afetam parcialmente as montadoras
Autor: Olmos , Marli
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2009, Empresas, p. B10

A semana começa com a produção de veículos ainda parcialmente comprometida. Graças a acordos fechados no fim de semana com os sindicatos dos metalúrgicos em campanha salarial, as montadoras conseguirão retomar o ritmo normal da produção hoje nas fábricas do ABC e de Taubaté, no interior de São Paulo. No entanto, ainda enfrentarão greves no Paraná e em São José dos Campos (SP).

Os metalúrgicos do ABC e de Taubaté conquistaram reajuste de 6,53% a partir de 1º de setembro, além de um abono de R$ 1,5 mil. O percentual equivale a 4,4% de reposição salarial referente à inflação do período mais aumento real de 2%. Para os dirigentes dessas bases, o acordo deverá servir de referência para outras categorias em campanha salarial.

A proposta da indústria foi aprovada em assembleias realizadas sábado e ontem. O acordo foi aceito pelos trabalhadores do ABC - onde estão as fábricas de carros Volkswagen e Ford e as de caminhões Mercedes-Benz e Scania - e de Taubaté, onde há unidades da Volks e Ford. Os sindicatos que representam essas duas bases são filiados à CUT. Além disso, o sindicato do ABC anunciou que a Volks vai abrir 200 vagas na fábrica de São Bernardo para atender ao aumento da demanda e preparação para lançamentos de mais automóveis.

Vizinha a Taubaté, a base de São José dos Campos, onde a General Motors tem uma fábrica, não aceitou a oferta das montadoras. Essa base é representada por sindicato filiado a uma central dissidente da CUT, a Conlutas. Os metalúrgicos de São José reivindicam reajuste de 14,65% (sendo 8,53% de aumento real mais inflação integral), redução da jornada para 36 horas sem redução de salários e sem banco de horas e estabilidade no emprego. Ao rejeitar a proposta, os metalúrgicos de São José dos Campos decidiram entrar em greve por tempo indeterminado a partir de hoje.

No Paraná, haverá assembleias nas portas de fábrica hoje para definir o rumo da mobilização. Mas, sem perspectiva de acordo, é provável que os 8,5 mil metalúrgicos da Volkswagen e do grupo Renaul-Nissan continuem em greve. Localizadas em São José dos Pinhais, essas fábricas estão paradas há mais de uma semana e, segundo cálculos dos sindicalistas, as duas montadoras já deixaram de fabricar 8,6 mil veículos desde o início do movimento. Em Curitiba, também não houve acordo na Volvo, que também poderá enfrentar greves esta semana.

Como também não foi fechado ainda nenhum entendimento entre sindicatos e a indústria de autopeças, eventuais paralisações no fornecimento de componentes também poderão afetar a fabricação de veículos.

A perda de produção na indústria automotiva ocorre no momento em que o setor decidiu acelerar o ritmo das linhas com a expectativa de elevar as vendas. Este é o último mês de incentivo fiscal. A partir de outubro, o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) voltará a subir gradativamente até janeiro.

Enquanto aceleram as linhas de montagem, os fabricantes de veículos têm orientado a rede de concessionárias a fazer estoque para evitar a falta de modelos nos próximos dias, quando se espera um aumento de demanda por conta do fim do incentivo tributário.

Ao mesmo tempo, as montadoras aproveitaram o fim de semana para realizar feirões. Todas as marcas usaram como principal ferramenta de marketing o apelo do fim do desconto no IPI. Outro chamariz para atrair o consumidor foi o aumento no número de prestações nas vendas a prazo. As principais marcas e bancos ofereceram planos de financiamento em até 72 meses.