Título: Empréstimo a subsidiária no país sustenta os bancos estrangeiros
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2009, Finanças, p. C2

A exposição de bancos estrangeiros no Brasil ocorre em 60% dos casos através de empréstimos em reais concedidos por suas subsidiárias no país. É uma tendência que cresce em paralelo à redução dos financiamentos pelas matrizes, no rastro da mais dramática crise dos últimos tempos. É o que mostra o Banco de Compensações Internacionais (BIS), o banco dos bancos centrais, em relatório trimestral sobre a atividade bancária e financeira internacional, no qual volta a alertar que "choques negativos" ainda podem ocorrer no caminho da recuperação econômica global.

Entre fim de maio e início de setembro, apesar das incertezas sobre o ritmo da recuperação econômica, os investidores mantiveram um cauteloso otimismo, constata o banco da Basileia.

O BIS qualifica de "surpreendentemente bons" os resultados financeiros dos bancos no segundo trimestre. Apesar da persistência de "dúvidas sobre a qualidade e solidez dos lucros", por causa da alta de inadimplência, os bancos renderam mais que os mercados de dívidas e ações. O índice do setor financeiro subiu 15% entre fim de maio e começo de setembro, recuperando todas as perdas desde novembro de 2008, mas ainda 30% abaixo do nível de meados do ano passado.

De maneira geral, os mercados continuaram a mostrar "sinais de normalidade", com melhor tolerância ao risco e diminuição de prêmios. Lentamente, investidores parecem se acostumar à ideia de que o pior da recessão econômica passou e que a recuperação virá gradualmente e ainda vulnerável a "choques negativos".

Investidores em bônus parecem um pouco mais incertos sobre o ritmo da recuperação global. Ainda mais diante do gigantesco e crescente déficit dos governos. No caso dos Estados Unidos, o governo deve pegar emprestado US$ 1,8 trilhão no atual ano fiscal, numa alta de 137% em relação ao nível já elevado de 2008.

Os investidores, em todo caso, antecipam baixos níveis de inflação e a permanência de taxas de juros extraordinariamente baixas nos próximos meses. Isso ao mesmo tempo em que os bancos centrais começam a preparar o fim de suas políticas de flexibilização financeira "não convencional". Nas economias emergentes, o BIS destaca o forte crescimento de certas economias da Ásia. Mas chama atenção para o tamanho da expansão do crédito na China, de US$ 1 trilhão. O risco de excesso de capacidade em alguns setores e de inflação provocaram queda na bolsa chinesa e afetou outros mercados.

O banco traz os dados mais recentes consolidados, ainda de março, da atividade bancária internacional. No caso do Brasil, fica claro que a exposição dos bancos estrangeiros é maior através de empréstimos em real.

A exposição total dos bancos estrangeiros no Brasil alcançou US$ 284,2 bilhões no primeiro trimestre (último dado consolidado), numa queda de 13% em relação aos US$ 327 bilhões do mesmo período de 2008, antes do pior da crise financeira.

Em março, US$ 172,7 bilhões da exposição no país representavam empréstimos em real pelas subsidiárias, numa baixa de 16% em relação ao mesmo período de 2008. Mas os créditos em reais aumentaram desde dezembro de 2008 em US$ 2 bilhões em preço constante, enquanto os financiamentos pelas matrizes baixaram, como o Valor antecipou em julho.

Entre o quarto trimestre de 2008 e o primeiro trimestre de 2009, o estoque de financiamento internacional para bancos brasileiros declinou de US$ 35,8 bilhões para US$ 31,3 bilhões. Ao mesmo tempo, subiu para empresas não financeiras de US$ 48,6 bilhões para US$ 56,2 bilhões. O estoque dos créditos para o setor público continuou estável em US$ 22 bilhões.

No geral, os empréstimos internacionais para os emergentes declinaram US$ 89 bilhões no primeiro trimestre (4%). Bancos da Alemanha, Áustria, Holanda, Suécia e da Grã-Bretanha foram os que mais reduziram sua participação, sobretudo na Europa do Leste.

Mas essa é apenas uma parte da situação, como mostra o BIS. É que, na maioria dos sistemas bancários, os créditos locais em moeda local alcançaram um volume pelo menos igual ao de empréstimos internacionais.

Num extremo estão bancos da Espanha e da Grã-Bretanha. Os bancos espanhóis têm exposição em moeda local, a maioria na América Latina, que representam três vezes mais que o tamanho de seus empréstimos internacionais aos mesmos países. No caso dos britânicos, o percentual chega a 50%. No outro extremo estão bancos da Alemanha e da Suécia, com financiamentos internacionais que somam cinco vezes o tamanho dos créditos em moeda local fornecidos por suas subsidiárias.