Título: Banco do Sul funcionará em janeiro "com ou sem Brasil", promete Equador
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Fonte: Valor Econômico, 15/09/2009, Brasil, p. A2

O Banco do Sul deve começar a operar em janeiro de 2010 "com ou sem o Brasil", afirmou ontem o ministro de Políticas Econômicas do Equador, Diego Borja Cornejo, depois de lamentar que Brasília é o parceiro que mais tem "freado" a criação da instituição regional.

Em entrevista ao Valor, o ministro equatoriano insinuou que o Brasil não seria "solidário", apesar de sua dita opção estratégica pela integração regional, mas preferiu se focar no aspecto financeiro. "O Brasil acha que tem suficientes reservas internacionais e não necessitaria desse tipo de instituição regional", afirmou. "É uma visão equivocada, porque já houve caso de país com muitas reservas que foram pulverizadas rapidamente."

Ele lamentou que o Brasil também não apoie a proposta de que parte dos Direitos Especiais de Saque (DES) do Fundo Monetário Internacional (FMI) seja destinado ao capital de instituições regionais, como o Banco do Sul.

Cornejo receberá hoje em Genebra o apoio da Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) à instituição, vista como embrião de novo modelo de banco regional na direção de uma "nova arquitetura financeira global".

O Banco do Sul é uma ideia do presidente da Venezuela, Hugo Chavez, e deveria ter começado a operar em 2008. Isso não aconteceu primeiro por causa da crise, e depois pela falta de entusiasmo de certos parceiros.

O representante equatoriano afirmou, porém, que o banco desta vez vai ser inaugurado em janeiro, com capital inicial de US$ 70 milhões, dos quais US$ 20 milhões viriam do Brasil. Ao longo de dez anos, o capital subiria para US$ 7 bilhões.

Apesar de pouco dinheiro, a instituição terá três sedes: em Caracas (Venezuela), em La Paz (Bolívia) e em Buenos Aires (Argentina). Mas Cornejo explica que os países vão dividir as tarefas. Não há um presidente confirmado. Pelo momento, o Equador conta com seu economista Pedro Paez para comandar o banco.

Falando diante dos outros 154 países membros da Unctad, o ministro equatoriano explicou que o banco vai dar prioridade a financiar, por exemplo, a produção de remédios genéricos para enfermidades endêmicas e que mais causam mortes.

Para ele, a configuração do Banco do Sul poderia impulsionar um "pool" de reservas na regiao. A América Latina dispõe de mais de US$ 500 bilhões de reservas que poderiam ser usadas em parte para financiar o desenvolvimento econômico regional, em vez de servir de maneira convencional para "blindagem" contra crises, na visão do equatoriano.