Título: França propõe mudar o método de cálculo do PIB
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 15/09/2009, Internancional, p. A12

Felicidade, férias longas e bem-estar podem não servir como referência de desempenho econômico para todo o mundo, mas Nicolas Sarkozy acha que deveriam ser incluídos em uma remodelação mundial das contas nacionais.

O presidente da França instou ontem outros países a adotar uma proposta de novas medidas de cálculo da produção econômica, elaboradas por uma comissão internacional de economistas comandada por Joseph Stiglitz, americano vencedor do prêmio Nobel.

Sarkozy, que criou a comissão em 2008, disse que o mundo ficou preso no "culto aos números".

A Insee, agência de estatísticas da França, começará a incorporar os novos indicadores em suas contas, segundo Sarkozy.

Uma das consequências da mudança proposta pela comissão para o dado de Produto Interno Bruto (PIB) será uma melhora instantânea do desempenho econômico da França, já que levará em conta seu serviço de saúde de alta qualidade, o dispendioso sistema de bem-estar social e longas férias. As mudanças, por sua vez, reduziriam a produção econômica dos EUA.

A comissão sugeriu uma série de aperfeiçoamentos na forma de cálculo do PIB. Propôs incluir na conta o bem-estar da população e a sustentabilidade dos recursos naturais e da economia do país. "Por todo o mundo, cidadãos pensam que estamos lhes mentindo, que os números estão errados, que eles são manipulados", disse Sarkozy.

"E eles têm motivos para pensar dessa maneira. Por trás do culto aos números, por trás de todas essas estruturas de contabilidade e estatísticas, também está o culto ao mercado que está sempre certo", disse o presidente.

O objetivo predominante de Sarkozy, pelo menos antes da crise, era elevar taxa tendencial de crescimento da França em um 1 ponto porcentual. "Comprovamos apenas metade disso", brincou Henri Guaino, redator dos discursos de Sarkozy e inspirador da comissão.

Stiglitz e Jean-Paul Fitoussi, coautor das propostas, disseram que um método mais abrangente de cálculo do desempenho reduziria a diferença do PIB per capita entre EUA e França, no mínimo, pela metade. O PIB por pessoa nos EUA é 14% maior do que o da França. Embora a comissão não tenha calculado o impacto de suas propostas em diferentes países, Stiglitz afirmou que as mudanças provocariam "vários ajustes importantes".

Os EUA gastam 15% de seu PIB em saúde e a França, 11%. Porém, se o cálculo do PIB levasse em conta os resultados dos serviços médicos e não apenas o gasto financeiro, o PIB per capita americano cairia em mais de 30%. Imprimir Compartilhar| Internacional: