Título: China inicia retaliação comercial contra os EUA
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Fonte: Valor Econômico, 15/09/2009, Internacional, p. A13
A decisão de Barack Obama, na semana passada, de sobretaxar pneus chineses foi combustível para uma guerra de palavras cada vez mais comum entre os EUA e a China no terreno comercial.
Pequim iniciou ontem uma investigação sobre a prática de dumping no comércio de carne de aves e autopeças exportados pelos EUA para a China. O governo chinês também pediu consultas formais na Organização Mundial de Comércio (OMC) para avaliar as tarifas americanas - no primeiro passo de uma tentativa para fazer com que sejam declaradas ilegais.
É incerto se os chineses terão êxito. A medida de salvaguarda invocada pelo presidente americano foi redigida especificamente para permitir que os EUA bloqueassem exportações chinesas, como parte do preço para aceitar a entrada da China na OMC em 2001.
Mas especialistas e advogados na área comercial dizem que o episódio deixa claro as estratégias legais cada vez mais sofisticadas usadas por Pequim em suas muitas disputas com parceiros comerciais e a maneira como a China maximiza efeitos políticos ao mesmo tempo em que tenta limitar prejuízos econômicos reais.
As opiniões estão divididas quanto a se essa disputa - embora abra novo terreno, por recorrer a uma lei comercial específica pela primeira vez - por si só deflagrará uma espiral protecionista. "Creio ser improvável que a disputa seja limitada a apenas um setor. Provavelmente contaminará outros", disse Gao Yongfu, especialista em legislação comercial do Instituto Xangai de Comércio Exterior
Segundo Gao, outros parceiros de comércio, entre eles a União Europeia (UE), provavelmente farão o mesmo, ampliando as restrições ao comércio com a China.
Outros advogados e economistas especializados em comércio internacional assinalam, no entanto, que a China ameaçou retaliar de uma maneira que tem alta visibilidade política, mas modesto impacto econômico.
Pequim construiu uma reputação de rápida, porém controlada, retaliação durante disputas comerciais. Um advogado comercial em Washington diz o seguinte: "A China sempre reage e por isso não penso que isso vá se intensificar. [Esse tipo de atitude] simplesmente se repete cada vez que os EUA fazem alguma coisa".
Para Arthur Kroeber, da Dragonomics, consultoria econômica de Pequim, "é improvável que medidas olho-por-olho adotadas pelos chineses venham a causar prejuízo econômico considerável. Não acreditamos que o caso marque o início de guerras comerciais características de épocas de depressão".
Os produtos que Pequim está ameaçando atacar - embora negue estar retaliando as tarifas sobre pneus - são politicamente importantes nos EUA. Os criadores de aves são um componente ativo do influente lobby agrícola americano, e são particularmente agressivos na busca de oportunidades para exportar, porque o mercado americano está saturado. Os operários na indústria automobilística e de autopeças são bastante sindicalizados e situados em importantes Estados do meio-oeste.
Mas o impacto econômico poderá ser pequeno. Os dois setores já são alvo de disputas separadas e envolvem volumes comerciais limitados. Como reação à proibição americana - que já dura dois anos -, à importação de carne de frango processada proveniente da China, Pequim proibiu a importação de carne de frango proveniente de diversos Estados americanos e, nas últimas semanas, surgiram informações sobre um bloqueio não-oficial a novas exportações de carne de aves dos EUA. No caso das exportações americanas de autopeças para a China, elas já são relativamente limitadas, em parte devido às tarifas elevadas. Imprimir Compartilhar| Internacional: