Título: Pressão de custos atingirá preços em janeiro
Autor: Olmos , Marli
Fonte: Valor Econômico, 17/09/2009, Brasil, p. A3

De agora até janeiro, pouco a pouco a indústria automotiva começará a acumular uma série de custos, que vão do aumento nos preços do aço aos reajustes nos salários dos metalúrgicos. O resultado dessa escalada, segundo fontes ouvidas, vai se refletir nos preços dos veículos com mais força no início do próximo ano - impacto que para o consumidor será ampliado pela elevação gradativa do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente sobre os carros.

Os dirigentes das montadoras começaram a fazer as contas do que chamam de novo tripé de pressão de custos e preços. Por enquanto, ninguém consegue chegar a um número mediano na soma das três frentes. O peso de cada item depende de uma série de fatores. Nas autopeças, por exemplo, o custo da mão de obra pesa 40%, com picos de 60% nas estamparias.

O repasse dos reajustes salariais ainda levará um tempo, já que nem todos fecharam acordo. Nas negociações ainda em curso, os dirigentes das autopeças tentam fazer valer a tese de que não podem dar o mesmo índice de das montadoras porque no seu setor o peso do custo do trabalho é maior.

No caso do aço, pedidos de reajustes de mais de 10% já chegaram nos fornecedores de componentes para a indústria automobilística. O repasse está na mesa de negociações com as montadoras. Já os fabricantes dos veículos ainda não estão pagando mais pelo aço que compram diretamente das siderúrgicas para produzir as peças maiores, como portas e capôs.

Fontes indicam que uma parte do setor ficou incomodada com as diferenças de reajustes salariais que vêm sendo negociadas. Enquanto a base dos metalúrgicos do ABC fechou acordo com aumento real de 2%, os que trabalham na Honda e Toyota, representados pelo sindicato de Campinas, conquistaram 5,32%. Isso demonstra uma nova relação de forças dentro da indústria automobilística.

O repasse dos aumentos salariais também depende de estrutura de custos e estratégia de cada montadora. Alguns carros agregam mais mão de obra do que outros. As montadoras também podem segurar os aumentos em modelos com os quais querem disputar mercado. Nesse cenário, estão ainda as marcas que não têm fábricas no Brasil, que se beneficiam do câmbio favorável à importação.

O que mais preocupa os dirigentes do setor é que as pressões do aumento no preço da matéria prima e a definição de reajustes salariais ocorrem combinadas com o momento em que o IPI voltará a subir. No setor de autopeças já se fala até em adiar investimentos.

O presidente da Magneti Marelli, Virgílio Cerutti, informa que diante das incertezas, o planejamento para 2010 vai ser postergado por quase dois meses. Sendo assim, o período normal para a definição de investimentos e do orçamento, tradicionalmente feito em setembro, vai ocorrer durante novembro. Esse é o tempo necessário, na opinião do executivo, para que seja possível avaliar o comportamento das vendas de automóveis com um incentivo fiscal menor.

O prazo também vai servir para diagnosticar a competitividade da unidade brasileira diante de um câmbio desfavorável e aumento de custo de mão de obra. " "Os patamares que foram fechados [reajustes] nos últimos dois anos vão impactar a competitividade da produção no país. E num cenário com real valorizado e mais competição global de fornecedores este é um assunto delicado", diz Cerutti. Para ele, o principal impacto dos custos crescentes vai ser nas exportações.

O mercado interno está bastante aquecido este mês por conta da expectativa do aumento do IPI a partir de outubro. "Todo o mundo está se movimentando para fazer um bom setembro", afirma o diretor comercial da Citroën, Domingos Boragina.

De fato, o resultado do licenciamento de veículos na primeira quinzena mostra um ritmo acelerado. No período, que soma dez dias úteis, foram licenciados em todo o país 120,8 mil veículos. Isso indica uma média diária de 12,08 mil unidades, uma das mais altas dos últimos meses. A média diária de todo setembro de 2008, mês que antecedeu a crise no crédito, foi de 11,5 mil unidades.

Além da expectativa do consumidor em relação à volta do IPI, a indústria tem feito muitas promoções. Porque este é o mês de "plantar" para enfrentar a concorrência, segundo Boragina. Antes das contas do impacto dos novos custos, os executivos de vendas apostavam que a alta do IPI seria compensada pela queda nas taxas de juros.

Em dezembro de 2008 decreto presidencial reduziu o IPI dos carros populares de 7% para zero. Para os modelos médios o governou cortou o tributo à metade. A subida, agora, será progressiva. Somente com o aumento do IPI, o preço de um Ka popular passará de R$ 23,9 mil para R$ 25,5 mil. Num financiamento de 60 meses, o valor da prestação do mesmo automóvel sobe de R$ 664 para R$ 709. (Colaborou Guilherme Manechini)