Título: Lula, sombra indispensável
Autor: Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 14/06/2010, Política, p. 2

Em discurso com tom de início da despedida do governo, presidente adota o papel de principal cabo eleitoral da ex-ministra

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu tom emotivo e saudoso na convenção do Partido dos Trabalhadores para defender a candidatura de Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto e lembrar o fato de estar no fim de seu segundo mandato. Apesar de a ex-ministra de Lula ter sido a protagonista do evento, Lula deixou claro que terá papel de peso na campanha da ex-ministra. ¿Vai ser a primeira eleição (desde a redemocratização, em 1989) em que meu nome não vai estar na cédula. Vai haver um vazio naquela cédula. Para que esse vazio seja preenchido, mudei de nome e vou colocar Dilma lá. Aí as pessoas vão votar. Eu espero que Deus te abençoe e dê força. Você sabe que tem um companheiro para a hora que você precisar¿, afirmou o presidente.

Lula deve assumir o papel de principal cabo eleitoral da ex-ministra logo após a Copa do Mundo. Segundo um auxiliar próximo do presidente, o petista começará a viajar nos fins de semana e à noite para divulgar a candidatura de Dilma em meados de julho. O ex-metalúrgico terá ainda um papel crucial na campanha: blindar a ex-ministra de divergências internas. O peso do presidente na estrutura petista vai impedir que Dilma se exponha a brigas entre os dirigentes da legenda.

O imenso banner que enfeitava o palco do local reforçava a importância do presidente na chapa PT-PMDB: em vez da figura do candidato a vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP), era Lula sorridente quem aparecia de braços erguidos ao lado de Dilma. Ao peemedebista, coube um discurso rápido, de menos de dez minutos, que procurou justificar a aliança com o PT em função de afinidades ideológicas.

Segundo o presidente da Câmara, a união ocorre ¿na convicção de que estamos fazendo uma aliança programática. Por isso, quando vejo aqui `Dilma presidente para o Brasil seguir mudando¿ (slogan da convenção), caso isso com o nosso lema do PMDB: `tem muito Brasil pela frente¿¿. Temer fez o discurso um dia depois de um pequeno grupo de seu partido ter defendido uma candidatura própria ao Palácio do Planalto ¿ a investida acabou sufocada na convenção do PMDB, sábado. PT e PMDB ainda enfrentam impasses nos estados para garantir sustentação à candidatura de Dilma (veja na página 4).

Salto alto Diante das militantes petistas, público-alvo do evento, Lula se mostrou confiante na vitória nas urnas em outubro. ¿Estou convencido que a possibilidade de ganhar as eleições são totais ¿ eu diria quase que absoluta. Mas eleição e mineração a gente só conhece o resultado depois da apuração. Então, é importante que a gente primeiro trabalhe, que ninguém fique andando de sapato alto achando que já ganhou¿, afirmou o presidente. ¿Não existe eleição fácil¿, completou.

Coube ao presidente do PT, José Eduardo Dutra, dar um tom mais crítico ao principal adversário da petista na disputa, o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB). Ao assumir o microfone, Dutra apontou o ¿fracasso¿ do governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e lembrou episódios como a sugestão de mudança do nome da Petrobras e o sucateamento das universidades públicas. O presidente da legenda ainda convidou a plateia a entoar um refrão alfinetando os tucanos: ¿Eita que eles estão aperreados. É 13, é 13, é Dilma pra todo lado¿, cantou com o público.

Vai ser a primeira eleição (desde a redemocratização, em 1989) em que meu nome não vai estar na cédula. Vai haver um vazio naquela cédula. Para que esse vazio seja preenchido, mudei de nome e vou colocar Dilma lá na cédula¿ Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República