Título: Pressionado por Quércia, Temer sela acordo com PT
Autor: Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 23/09/2009, Política, p. A12

O PT e a cúpula do PMDB acertaram ontem um pré-compromisso de aliança eleitoral em 2010 em outubro. O acordo foi feito ontem, logo após o presidente pemedebista Michel Temer ter acertado com o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia ampliar as conversas com lideranças regionais sobre a posição do partido na sucessão. Temer, inclusive, prometeu fazer os primeiros encontros dentro de duas a três semanas.

Na conversa com o presidente da Câmara e dirigente licenciado do PMDB, o ex-governador paulista classificou de "precipitada" a proposta de Temer de fechar a coligação com o PT até outubro. "A aliança com o Lula pode até ter o apoio de mais de 50% do partido hoje, mas há muitas mudanças ocorrendo nos diretórios do PMDB, que podem levar o resultado da convenção nacional para o outro lado", disse Quércia a Temer.

O presidente pemedebista retrucou que, na hipótese de o partido tender a apoiar o PSDB, seria o caso de o partido sair do governo federal. Quércia, segundo seu próprio relato, respondeu que o compromisso do PMDB é de apoiar o governo e não o candidato do PT.

O ex-governador paulista defende aliança com o candidato do PSDB a presidente. Diz ter "restrições" ao governo Lula, que "não sabe fazer obra pública", ao contrário do governador José Serra, de São Paulo, tido como o mais provável candidato tucano. Embora tenha aliança com Serra, Quércia afirma que apoiará o candidato que o PSDB escolher. Ele também tem conversado com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves.

Nem bem Quércia virou as costas, Temer e o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), também presente à conversa, foram ao Palácio do Planalto para conversar com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à sucessão presidencial. Entre um encontro e outro, Temer conversara também com o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini. Os petistas, assim como Quércia, não querem antecipar o cronograma de aliança e fechar agora em outubro um acordo com o PMDB - inclusive com a indicação do candidato a vice, como pressiona o grupo governista da Câmara.

O mais provável é que seja anunciado um meio termo. Ao voltar do Palácio do Planalto, Temer e Henrique Alves informaram a pemedebistas que em outubro deve haver uma reunião entre os líderes dos dois partidos para firmar um pré-compromisso eleitoral. Mas não será anunciado o nome do vice, como era o desejo inicial da cúpula nacional do PMDB. Querem esperar a volta do presidente Lula da viagem internacional que está fazendo.

O pré-compromisso de aliança com o PT atenderia às expectativas de dois nomes influentes no partido: o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, e o deputado Jader Barbalho (PA). Com isso eles poderiam afirmar, em seus Estados, que contam também com apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A Bahia e o Pará são governados por petistas: Jaques Wagner (BA) e Ana Júlia Carepa (PA). A relação dos quatro está estremecida. Na Bahia, o PMDB entregou os cargos que detinha no governo petista.

Em suas conversas no Planalto, Temer também disse que vai ampliar as negociações internas no PMDB, mas no sentido de diminuir as resistências à aliança PMDB-PT. O episódio demonstra que a divisão do PMDB permanece sob a capa da unidade que levou o partido a ocupar seis ministérios no governo Lula, entre eles alguns de grande influência, como o de Minas e Energia, ao qual estão vinculadas estatais como a Petrobras (que será a operadora do pré-sal) e a Eletrobrás.

Quércia esteve na presidência da Câmara para falar com Temer acompanhado do senador Jarbas Vasconcelos (PE), que também apóia Serra, e do deputado Íbsen Pinheiro, que é do PMDB do Rio Grande do Sul, principal adversário do PT no Estado. Os pemedebistas gaúchos articulam apoio do PSDB à candidatura a governador do prefeito de Porto Alegre, José Fogaça. Nessa hipótese, a governadora Yeda Crusius (PSDB), em crise política desde que assumiu, desistiria da reeleição.

O ex-governador de São Paulo deve apoiar os tucanos, mesmo que o candidato do PSDB seja o mineiro Aécio Neves. Foi o que disse há cerca de dez dias ao próprio governador de Minas. O presidente do PMDB de São Paulo tenta costurar apoio do PSDB à candidatura do ministro Hélio Costa (Comunicações) ao governo mineiro. Quércia afirmou a Aécio que fortalecer o PMDB de Minas seria importante para o PSDB, independentemente do candidato presidencial.

O principal argumento do ex-governador para tentar frear as articulações da cúpula pemedebista por uma antecipação de acordo com o PT é que a decisão final sobre a posição do partido na sucessão será tomada pela convenção nacional, a ser realizada apenas em junho de 2010.