Título: Lula pede maior pressão dos EUA sobre Honduras
Autor: Balthazar , Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 23/09/2009, Internacional, p. A13

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu aos EUA que permaneçam engajados nos esforços da comunidade internacional para restaurar a normalidade política em Honduras e devolver o poder ao presidente Manuel Zelaya, que foi derrubado por um golpe de Estado há quase três meses e voltou ao país de surpresa anteontem.

"Brasil e EUA precisam cooperar para que a gente possa garantir que a democracia seja consolidada", disse Lula na noite de segunda-feira, ao discursar num jantar organizado em sua homenagem pelo Wilson Center, um centro de estudos de Washington. "Por isso é que Brasil e EUA repudiaram o que aconteceu em Honduras. Nós não podemos aceitar mais golpe militar."

Ontem, o Brasil pediu ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) que convoque uma reunião de emergência para discutir a crise. O organismo é presidido pelos EUA atualmente. A situação de Honduras se complicou com a volta de Zelaya, que está refugiado na embaixada brasileira em Tegucigalpa, acompanhado por dezenas de parentes e correligionários.

Zelaya conversou ontem cedo com Lula, que está em Nova York para participar da abertura da 64ª Assembleia-Geral da ONU. Em entrevista a jornalistas, Lula disse ter pedido a Zelaya para manter a calma e atacou seus adversários: "Os golpistas estão exagerando, estão quase exigindo que o presidente eleito democraticamente peça desculpas por estar em Honduras."

Ontem, as pressões internas sobre o presidente interino, Roberto Micheletti. O Partido Nacional, um dos principais de Honduras, pediu que Micheletti adote uma postura mais flexível e aceite negociar. O candidato do partido às eleições presidenciais, marcadas para 29 de novembro, Porfírio Lobo, ameaçou abandonar o apoio ao governo atual caso o impasse perdure.

Micheletti disse que está disposto a dialogar, com a ajuda de mediadores "sérios e responsáveis". Ele rejeitou uma nova participação do presidente da Costa Rica, Oscar Arias, que já desempenhou - sem sucesso - o papel de mediador por sugestão dos EUA.

A nova situação tende ainda a ampliar a pressão para que os EUA adotem sanções mais rigorosas para levar os opositores de Zelaya à mesa de negociações. Washington cancelou parte da ajuda financeira que dá a Honduras e revogou vistos de vários integrantes do governo interino, mas evita impor sanções comerciais que poderiam prejudicar a economia do país, dependente do mercado americano.

O Brasil e os EUA manifestaram ontem apoio à nova missão diplomática que o secretário da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, está tentando organizar para buscar uma solução para o impasse. Uma missão de Insulza logo no início da crise, quando ele foi a Honduras exigir a restauração de Zelaya no poder, fracassou e abalou a credibilidade da entidade.

Na entrevista de ontem, Lula disse que a OEA é a instituição adequada para mediar o conflito e rejeitou a ideia de o Brasil assumir esse papel. "O Brasil apenas fez aquilo que qualquer país democrático faz na hora em que um cidadão pede exílio na sua embaixada", disse o presidente. O governo brasileiro voltou a negar que tenha participado da operação que levou Zelaya de volta ao país.

O contato entre autoridades americanas e brasileiras tem sido frequente. Segundo o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, Lula poderia discutir o assunto pessoalmente com o presidente dos EUA, Barack Obama, ontem à noite, quando os dois se encontrariam num jantar na ONU.

Na noite de segunda-feira, no jantar em homenagem a Lula, o assessor especial do presidente para relações externas, Marco Aurélio Garcia, conversou demoradamente sobre a situação de Honduras com o chefe da diplomacia dos EUA na América Latina, Tom Shannon, cuja nomeação como embaixador do país no Brasil ainda está pendente no Senado americano.

Ontem, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ian Kelly, voltou a pedir que simpatizantes de Zelaya e a forças do governo que mantenham a calma e evitem a violência. E exigiu que o governo respeite a integridade da Embaixada do Brasil. "O respeito e a proteção à inviolabilidade das premissas diplomáticas são princípios universalmente aceitos das relações internacionais", disse Kelly. (Com agências internacionais)