Título: PMDB cobra do PT empenho por aliança
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 22/09/2009, Política, p. A8

A direção nacional do PMDB demonstra firme propósito de esperar apenas até o fim de outubro deste ano por uma definição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT sobre a vaga de vice na chapa da ministra Dilma Rousseff (chefe da Casa Civil) à Presidência da República. Sem a formalização desse compromisso já, a cúpula acha difícil conter a articulação de lideranças do partido para que cada direção estadual tenha liberdade para escolher o candidato a presidente em 2010 que quiser.

"Se não houver definição até outubro, será imprevisível a reação do PMDB", afirma o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN): "Teremos que identificar quem quer adiar isso, quem não quer a aliança com o PMDB e a razão. É hora da verdade, do jogo aberto entre os partidos, de transparência".

A cúpula pemedebista avalia que Lula e o PT mostram pouco - ou nenhum - empenho em resolver problemas entre os dois partidos em Estados importantes, como Rio, Bahia, Pará e Minas. O conflito entre PT e PMDB nesses locais enfraquece a aliança nacional. Nesses Estados, o PMDB local gostaria de apoiar Dilma, mas a composição com o PT dificulta.

Há, ainda, os Estados em que o PMDB pende para uma candidatura da oposição a presidente, como São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Pernambuco. Esse cenário mostra a dificuldade da direção nacional em defender a aliança com Dilma, principalmente quando a ministra mostra fraco desempenho nas pesquisas.

Por isso, os dirigentes pemedebistas mudaram de posição. Diziam que era preciso resolver os problemas entre PT e PMDB nos Estados antes de fechar a aliança. Agora, com problemas para solucionar os conflitos locais, a cúpula tomou o caminho oposto: quer o compromisso de que ocupará a Vice-Presidência como argumento a mais para negociar o projeto nacional com os Estados.

Além disso, os pemedebistas querem afastar do páreo o deputado Ciro Gomes (PSB-CE), um duro crítico do PMDB - mais diretamente do que chama de "hegemonia moral e intelectual" da aliança governista. Ciro mostra fôlego para se lançar à disputa presidencial pela terceira vez. Há também os que o apontam como o vice ideal de Dilma.

Esse quadro é propício à crescente movimentação a favor de aliança com o governador de São Paulo, José Serra - o pré-candidato tucano mais forte até agora a presidente -, por parte do ex-governador Orestes Quércia, presidente do PMDB paulista, e de outros pemedebistas mais identificados com o PSDB do que com o PT. Por essas razões, o presidente nacional do partido licenciado, Michel Temer (SP), presidente da Câmara dos Deputados, resolveu fazer uma cobrança pública a Lula e ao PT.

As declarações que deu ao "Estado de S. Paulo", em entrevista publicada no domingo, foram comunicados por Temer diretamente a Lula, em audiência na quarta-feira. O presidente licenciado do PMDB cobrou que Dilma assuma a pré-candidatura, deixou claro que o partido não se aliaria a Ciro e deu prazo até o fim de outubro, "início de novembro no máximo", por uma formalização da aliança, com a vaga de vice para um pemedebista.

Os pemedebistas acreditam estar dando argumento para Lula pressionar o PT pelas composições estaduais e pela formalização da pareceria na chapa presidencial. Tudo combinado com a cúpula do partido, na noite da terça-feira, na sua casa.

Para os dirigentes do PMDB, é "natural" que essa vaga seja do partido, por ser o maior do Congresso e do país e, portanto, fundamental à governabilidade. Os pemedebistas avaliam que a legenda só deixará de ser coadjuvante no próximo governo ocupando a vice-presidência. Ou então na hipótese de lançar um candidato próprio para, num segundo turno, "fazer uma aliança e não uma adesão", segundo explica o líder do partido na Câmara.