Título: Crise torna a capitalização do BID mais difícil
Autor: Rastello , Sandrine
Fonte: Valor Econômico, 22/09/2009, Finanças, p. C8

Pela primeira vez em 15 anos, a recessão mundial e os orçamentos apertados dos governos estão complicando os esforços do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) de levantar capital, disse o presidente do banco, Luis Alberto Moreno.

"Nessas condições o aumento de capital não é fácil devido aos principais doadores, que tiveram, todos, de empreender esforços significativos" de ampliação dos gastos a fim de respaldar suas economias, disse Moreno em entrevista concedida em Washington na semana passada. "Isso tem consequências. Tudo isso se transforma em dificuldade."

O BID, uma agência de fomento, com classificação de crédito AAA, que financia projetos na América Latina e Caribe, está tentando manter o fluxo de financiamento para seus 26 tomadores. As aprovações de empréstimos totalizaram cerca de US$ 109 bilhões desde a última reposição de capital, de 1994.

A comissão de técnicos externos, capitaneada pelo ex- ministro da Fazenda do Peru Pedro Pablo Kuczynski recomendou, alguns meses atrás, um aumento de até US$ 180 bilhões, que poderia sustentar os US$ 15 bilhões em empréstimos anuais na região.

Em reunião a realizar-se em Madri no mês que vem, os presidentes dos bancos vão discutir quais as dimensões que o banco deveria ter a fim de atender às necessidades de tomada de empréstimos da região. As estimativas do banco para os empréstimos variam de US$ 12,9 bilhões a US$ 19 bilhões ao ano durante a próxima década.

"As necessidades da América Latina continuarão grandes", disse Moreno.

O Fundo Monetário Internacional (FMI), que socorreu economias do Paquistão à Hungria nos últimos 12 meses, disse em julho que a economia dos países em desenvolvimento do hemisfério ocidental encolheria 2,6% este ano e cresceriam 2,3% em 2010.

Moreno, de 56 anos, disse que o banco mantém "muitas" conversações com os Estados Unidos, seu principal acionista, dono de uma participação de 30 por cento. "Ainda não posso lhe dizer que temos uma resposta" com relação ao respaldo dos Estados Unidos para um aumento de capital, disse ele.

O BID registrou quase US$ 1 bilhão em prejuízos com investimentos no ano passado, gerando preocupações entre alguns dos presidentes do banco. Certos membros do Congresso dos Estados Unidos, como o senador Richard Lugar, veterano republicano da Comissão de Relações Exteriores do Congresso dos Estados Unidos, condicionaram seu apoio a um aumento de capital à adoção de mudanças nos controles de gerenciamento de risco do banco. Qualquer nova contribuição dos Estados Unidos ao BID precisa ser aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos.

Em julho a presidente do Chile, Michelle Bachelet, disse que seu governo apoia a recapitalização, e o ministro da Fazenda do México, Agustín Carstens, afirmou que o banco tem necessidade "urgente" de mais recursos para ajudar países atingidos pela crise financeira.

Um aumento de capital é "uma maneira de renovar o compromisso para com a instituição, mas também de pedir dela uma série de coisas e, claro, haverá prioridades, haverá condições", disse Moreno.

Moreno informou também que a instituição começou a implementar recomendações de um grupo de assessoria externo, que incluem uma nova política de liquidez bem como um novo modelo de adequação de capital.

(Colaborou Joshua Goodman, do Rio)