Título: Desemprego mantém-se estável, mas IBGE vê recuperação do mercado de trabalho
Autor: Rosas , Rafael
Fonte: Valor Econômico, 25/09/2009, Brasil, p. A2

A manutenção da taxa de desocupação em 8,1% em agosto, diante de 8% em julho, não significa uma estagnação do mercado de trabalho. Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a pesquisa divulgada ontem mostra a recuperação da população ocupada e pode refletir a maior procura por emprego em um cenário de recuperação econômica.

Cimar Azeredo, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), ressalta que a população ocupada tem apresentado aumentos gradativos, estimulando a volta ao mercado de trabalho de pessoas que não estavam procurando ocupação em decorrência dos efeitos da crise sobre a economia. "Embora a taxa esteja no mesmo patamar há dois meses, há outros indicadores que mostram evolução do mercado", frisa Azeredo.

Em agosto, a população ocupada subiu 0,5%, o equivalente a 112 mil empregados a mais, enquanto a população desocupada avançou 1,9%, o equivalente a 36 mil desocupados a mais.

A população ocupada na indústria paulista subiu 5,8% em agosto, na comparação com julho, no maior aumento em relação ao mês anterior desde o início da série histórica, em 2002. No total, o setor industrial da região metropolitana paulista contratou 106 mil pessoas em agosto, respondendo pela maior parte dos 135 mil contratados pelas indústrias das seis regiões metropolitanas analisadas pelo IBGE.

"O aumento da contratação da indústria em São Paulo aponta que o setor voltou a se aquecer após meses de queda na população ocupada. A indústria foi um dos setores mais afetados pela crise e mostra que está deixando a crise para trás", disse Azeredo.

Ele lembrou que movimentos de contratação pela indústria paulista costumam ser replicados nas outras regiões metropolitanas nos meses seguintes. Em agosto, a alta da contratação em São Paulo levou a população ocupada das seis regiões metropolitanas a subir 3,9% na comparação com julho, o maior resultado para a comparação com o mês imediatamente anterior desde os 4,4% de abril de 2004.

Azeredo alertou, porém, que o resultado de agosto não foi suficiente para que a indústria recuperasse os efeitos totais da crise. No geral, a população ocupada na indústria ficou 3,4% abaixo do observado em agosto do ano passado, o equivalente a 128 mil pessoas a menos. Em São Paulo, o resultado foi menos negativo, com queda de 1,7%, ou 33 mil postos de trabalhos a menos. Foi o quinto mês seguido de redução na população ocupada na indústria paulista na comparação com igual mês do ano anterior. "Apesar do ótimo resultado na margem, ainda não recuperamos os níveis do ano passado na indústria", explicou Azeredo.

Entre janeiro e agosto, a população ocupada na indústria nas seis regiões metropolitanas analisadas pelo IBGE atingiu a média mensal de 3,485 milhões, 2,5% abaixo dos 3,575 milhões de média nos oito primeiros meses do ano passado. Considerando apenas São Paulo, essa média foi de 1,823 milhão de pessoas entre janeiro e agosto deste ano, 2,3% a menos que os 1,866 milhão de igual período de 2008. "Temos de lembrar que a destruição de postos de trabalho é muito mais rápida que a recuperação dessas vagas", destacou Azeredo.

O rendimento médio da população ocupada em agosto atingiu R$ 1.336,80 nas seis regiões metropolitanas analisadas na pesquisa do IBGE. O resultado significou um avanço de 0,9% em relação aos R$ 1.324,25 de julho e um crescimento de 2,2% na comparação com os R$ 1.307,41 de agosto do ano passado.

O resultado de agosto foi puxado pelo setor da construção, que fechou o mês com um rendimento médio de R$ 1.096,30 pago à população ocupada, 6% superior aos R$ 1.034,64 de julho e 13,5% maior que os R$ 965,66 de agosto de 2008.

No sentido inverso, a indústria puxou para baixo o rendimento de agosto. O setor fechou o mês passado com rendimento médio de R$ 1.417,90, uma queda de 1% em relação aos R$ 1.432,92 de julho, embora tenha havido uma alta de 2,4% em relação aos R$ 1.384,64 de agosto do ano passado.

A indústria contribuiu também para a queda do rendimento dos empregados com carteira assinada no setor privado, que tiveram rendimento médio de R$ 1.259,10 em agosto, 0,7% abaixo dos R$ 1.267,81 de julho e 0,2% menor que os R$ 1.261,63 de agosto de 2008. Na média dos oito primeiros meses do ano, o rendimento atingiu R$ 1.335,11, alta de 3,8% na comparação com os R$ 1.286,50 de igual período de 2008.

Azeredo frisou que a crise econômica internacional não foi capaz de afetar o crescimento da formalização do emprego no país. Em agosto, o número de empregados com carteira assinada no setor privado atingiu 44,5% da população ocupada, recorde neste quesito para um mês de agosto. "Todo esse cenário de crise econômica passou longe da carteira de trabalho", ressaltou.