Título: Brasil entra no debate mundial
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 14/06/2010, Economia, p. 12

De mau exemplo, por seu histórico de hiperinflação e de caloteiro, país ganhou representatividade nos fóruns que definirão as novas regras para o funcionamento do sistema financeiro internacional

cenário internacional e virou sinônimo de mau exemplo. Não sem motivo. Com um longo histórico de inflação galopante, problemas sem fim nas contas externas, dívidas monstruosas que levaram a vários calotes, ao menor sinal de crise mundo afora, o país ficava de joelhos e o resultado era um só: recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Nas últimas duas décadas foram muitos os pedidos de socorro para evitar a bancarrota.

Hoje, felizmente, a situação é outra. O país fez o dever de casa e conseguiu ingressar no seleto grupo de países que são respeitados, dão palpites, são ouvidos e têm a missão de contribuir para a estabilidade global. Mas a mudança de posição não aconteceu por acaso. Foi, segundo o diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Luiz Awazu Pereira da Silva, fruto da perseverança na política macroeconômica correta. ¿Mudamos progressivamente de status¿, observa.

O longo caminho para a virada começou a ser pavimentado com a estabilidade econômica. Ou seja, quando o país foi capaz de debelar a sua inflação crônica. Depois de enfrentar as crises dos anos1990, entre elas a do México e a da Ásia, o Brasil construiu o tripé que se tornou a base da receita que está dando certo: inflação sob controle, taxa de câmbio flutuante e trajetória cadente da dívida pública por meio da economia para o pagamento de juros, o denominado superavit primário.

Reservas elevadas A taxa de câmbio flexível protege o país contra choques externos. Reservas internacionais altas também provaram ser um excelente ativo em períodos de liquidez internacional baixa, o que ficou provado na crise financeira de 2008, provocada pelo estouro da bolha imobiliária americana. ¿Reagimos rapidamente e com eficiência à crise. Fomos capazes, pela primeira vez, de executar políticas anticíclicas para minimizar os estragos das turbulências¿, diz Awazu.

Foi esse movimento rápido e seguro que despertou a atenção internacional e fez o Brasil consolidar o respeito que já vinha acumulando entre os governos e nos mercados. ¿Aprendemos a lição com as crises do passado. Hoje, sofremos muito menos. Estamos preparados para eventuais solavancos da economia internacional¿, garante Awazu.

Prova disso é que o Brasil tem hoje assento em fóruns que, até poucos anos atrás, nem poderíamos imaginar. Um deles é o G-20, que engloba as 19 maiores economias do planeta e a União Europeia. Para o diretor do BC, os países mais ricos reconhecem que as economias emergentes, entre elas a do Brasil, têm uma contribuição importante a dar para o desenho de um sistema de gestão mais equilibrado e estável do sistema financeiro internacional. A participação do Brasil no G-20 se dá por meio do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e do presidente do BC, Henrique Meirelles.

No comando

Veja alguns dos principais fóruns internacionais nos quais o Brasil ganhou relevância

G-20

# Depois do estouro da bolha imobiliária americana, em setembro de 2008, o G-20 tornou-se o principal fórum global de discussão e coordenação de políticas econômicas. Os países mais desenvolvidos reconheceram que as economias emergentes, entre elas o Brasil, não podiam mais ser deixadas à margem dos processos decisórios na arquitetura do sistema financeiro internacional.

# A participação do Brasil, por intermédio do Ministério da Fazenda e do Banco Central, se dá principalmente com os outros integrantes do Bric (Rússia, Índia e China), com o objetivo de fortalecer a posição dos países emergentes frente a processos como a reforma do FMI e do Banco Mundial e de se definir um arcabouço de crescimento econômico sustentável e balanceado, além do desenvolvimento de redes de proteção financeira.

FSB # Em abril de 2009, o Banco Central passou a ser membro do Conselho de Estabilidade Financeira (FSB), chamado, anteriormente, de Fórum de Estabilidade Financeira. Trata-se do organismo internacional que tem como objetivo desenvolver e implementar políticas de regulação e supervisão no interesse da estabilidade do sistema financeiro.

CCA # O Banco Central participa das reuniões e grupos de trabalho do Conselho Consultivo das Américas, criado em 2008 e integrado pelos presidentes de seis bancos centrais da região: Argentina, Brasil, Canadá, Chile, EUA e México. Tal participação visa aprimorar a atuação do Banco de Compensações Internacionais (BIS) nas Américas e melhor refletir as necessidades e os interesses da região em seu programa de trabalho. O presidente do BC brasileiro, Henrique Meirelles, ocupa, desde março de 2010, o cargo de presidente do CCA.