Título: Honduras sente impacto do isolamento
Autor: Moura , Marcos
Fonte: Valor Econômico, 29/09/2009, Internacional, p. A8

O impasse político em Honduras já começou a afetar o ritmo dos negócios no país. Turismo, comércio e indústria estão entre setores mais ameaçados. Líderes empresariais dizem, no entanto, ter poucas esperanças de que o presidente interino flexibilizará suas posições em função da pressão do setor produtivo. E temem que as medidas do governo, as incertezas e as pressões externas acabem estrangulando de vez a economia do país.

"A situação está criando dúvidas e temor entre clientes estrangeiros que importam nossos produtos. Eles estão buscando outros fornecedores", disse Luís Larach, presidente da Câmara de Comércio e Indústria de Córtez, Estado da região norte, a mais desenvolvida do país.

Quase 80% da produção agro-industrial é destinada ao mercado externo. Os EUA são o principal parceiro comercial de Honduras para aonde vão cerca de 90% de suas exportações. Têxteis, peixe, frutas e café são alguns dos itens mais exportados. O país exporta a ano US$ 2,8 bilhões em têxteis e US$ 1,5 bilhão em produtos agrícolas. As remessas de dividas de hondurenhos que vivem no exterior somam US$ 2,4 bilhões. O PIB do país é de US$ 14,1 bilhões.

O temor dos clientes estrangeiros, diz Larach, é que os hondurenhos não consigam cumprir prazos de entrega devido às ordens de toque de recolher, iniciadas quando o presidente deposto, Manuel Zelaya, voltou ao país na semana passada e se refugiou na Embaixada do Brasil. A medida têm provocado atrasos nos transportes.

Além disso, há o temor é que Honduras seja atingida por sanções econômicas. "Achamos que é improvável que isso ocorra, mas não descartamos que podemos ser alvo de uma medida desse tipo pois a comunidade internacional está reagindo muito duramente."

Os EUA e União Europeia já suspenderam programas de ajuda ao país, e o Fundo Monetário Internacional impediu o país de acessar US$ 163 milhões - 7% das reservas do banco central - em direitos especiais de saque.

Segundo Jesús Canahuati, vice-presidente do escritório hondurenho do Conselho Empresarial da América Latina, o turismo tem sido o setor mais afetado até agora, por conta das medidas do governo e de advertências que embaixadas têm feito a seus cidadãos sobre os riscos no país. O conselho estima que só com as restrições à circulação da semana passada o país deixou de gerar US$ 100 milhões.

Amilcar Bulnes, presidente do Conselho Hondurenho da Empresa Privada, confirma que já há "alguma diminuição" das encomendas a Honduras e que os investimentos internos e externos foram engavetados. O comércio sofreu nos últimos dias por causa dos toques de recolher que impediram as pessoas de circular pelas ruas. Ainda assim, Bulnes diz que a crise política não provocou até agora um efeito tão forte na economia.

Segundo ele, o país tem estoques para garantir o abastecimento por seis meses. As perspectivas, no entanto, são ruins "Se a situação não mudar, podemos nos transformar num Haiti ou num país pobre africano." Mas nem Bulnes nem Larach creem que o governo atenue as restrições e abra um diálogo com Zelaya por causa das pressões econômicas. "A pressão política é a maior pressão. O mundo inteiro está contra o país neste momento."