Título: Washington mantém ambiguidade em relação a Honduras
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Fonte: Valor Econômico, 30/09/2009, Internacional, p. A13

Os EUA vêm mantendo a a ambiguidade em relação a Honduras, mesmo num momento em que o impasse político no país centro-americano se agrava. Ora Washington critica a volta do presidente deposto Manuel Zelaya; ora sugere que pode não reconhecer as eleições presidenciais, mas sem detalhar quais as condições para isso.

Essa situação ocorre num momento em que o enviado especial para a América Latina indicado pelo presidente Barack Obama, Arturo Valenzuela, vê sua nomeação travada pelo Senado. O cargo continua ocupado por Thomas Shannon, mas ele vem adotando um perfil baixo nessa crise, pois também aguarda confirmação pelo Senado de sua indicação para embaixador no Brasil.

Setores conservadores nos EUA vem insistindo no apoio aos golpistas, vistos como antichavistas. Dizem que, como não há previsão de processo de impeachment na Constituição de Honduras, a decisão da Suprema Corte de que Zelaya teria de ser destituído deu ao seu afastamento uma base legal.

Além disso, os EUA mantêm em Honduras sua maior base militar na América Central e as relações com os militares hondurenhos são tradicionalmente boas.

Anteontem, o representante dos EUA na Organização dos Estados Americanos (OEA), Lewis Amselem, criticou o retorno de Zelaya ao país. "A volta do presidente Zelaya a Honduras foi irresponsável e não serve nem aos interesses de seu povo nem aos interesses dos que buscam o restabelecimento pacífico da ordem democrática em Honduras", disse. Para ele, a decisão de pedir abrigo na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa foi "tola".

Apesar da crítica, no dia seguinte o porta-voz da Secretaria de Estado americana, Philip Crowley, disse que Washington não reconheceria as eleições presidenciais se o impasse no país não fosse resolvido. Essa seria a posição mais forte tomada pelos EUA até então.

Pedir o fim do impasse e a "normalização do país", como disse Crowley, não deixa claro entretanto se os EUA estariam exigindo ou não a volta de Zelaya ao poder.

As autoridades americanas dizem que não há planos para impor novas sanções econômicas ao governo hondurenho.

Na OEA, essa ambiguidade está provocando um impasse. A organização suspendeu ontem as discussões de seu Conselho Extraordinário por falta de consenso em relação a uma resolução dizendo se a entidade reconheceria ou não as eleições presidenciais hondurenhas, marcadas para o dia 29 de novembro.

O presidente da Costa Rica, Óscar Arias, disse que não serão só as eleições que resolverão o problema de Honduras, e sim "eleições reconhecidas por todos".

Quase todos os países do continente já afirmaram que não reconhecerão o resultado do pleito caso Zelaya não seja antes reconduzido ao poder.